Brexit e Portugal no mercado emissor do Reino Unido

Afinal, o que representa o Brexit para o posicionamento de Portugal no mercado emissor do Reino Unido? Parece possível relacionar a procura com a cotação da libra no antes/depois da decisão de Brexit. Depois explicitamos a exposição dos três aeroportos às consequências do Brexit.

Não alinhamos nos actuais excessos de euforia, culto do sucesso e discurso light sobre turismo, porque perturbam a lucidez na análise do essencial:

-não estamos aqui para estragar a festa em que também participamos,

-estamos para reforçar a onda dos que mantêm os pés na terra e querem conhecer e compreender a realidade em que vivemos

1.Passageiros oriundos do Reino Unido e libra em relação ao euro
*Passageiros do Reino Unido no total dos três aeroportos e em Faro
A cotação da libra em euros é um dos factores que influenciam a formação da procura do mercado do Reino Unido pela oferta do turismo em Portugal. O gráfico 1 ilustra a evolução do número de passageiros oriundos do Reino Unido no total dos três aeroportos.

Gráfico 1 – Passageiros Reino Unido no total de Lisboa, Porto, Faro
(milhares)


Fonte: Elaboração própria com base em Informação ANA

O gráfico 2 ilustra a evolução do número de passageiros oriundos do Reino Unido em Faro, onde este mercado representa cerca de 50% da procura. Os dois gráficos mostram um surto de crescimento a partir de 2013.

Gráfico 2 – Passageiros oriundos do Reino Unido em Faro
(milhares)


Fonte: Elaboração própria com base em Informação ANA

*Evolução da cotação da libra em euros
A figura 1 ilustra a relação entre libra e euro desde 2012. Destacamos:

-a partir de 2013, a fase de desvalorização da libra em relação ao euro coincide com o surto de crescimento identificado pelos gráficos 1 e 2.

Figura 1- Relação entre libra e euro nos últimos cinco anos


Fonte: Bloomberg

A relação entre a moeda da procura e a da oferta é conhecida, mas é bom saber como acontece no Algarve e no total dos três aeroportos, em consequência do peso do Algarve neste total (57,3% do total em 2015).

Em ligação com o que descrevemos, em 30 de Setembro de 2016, depois da libra a descer desde o início do ano, as chegadas do Reino Unido a Faro crescem menos do que as de Alemanha, Holanda e Irlanda (os três mercados mais importantes do Algarve depois do Reino Unido).

Por fim, insistir na nossa responsabilidade:

-a capacidade de atracção de um destino turístico depende do preço, mas esta dependência deve ser fisiológica e não patológica, em imagem que importamos da biologia.

2.Exposição de Lisboa, Porto e Faro ao mercado do Reino Unido
*Passageiros oriundos do Reino Unido em Lisboa, Porto, Faro
O gráfico 3 ilustra, a evolução de passageiros oriundos do Reino Unido em Lisboa, Porto e Faro, e no total destes aeroportos. Destacamos:

-crescimento lento e estabilidade até 2012 e crescimento mais acentuado desde 2013, que coincide com a valorização da libra, como vimos antes,

-crescimento acentuado com base sobretudo na dinâmica de Lisboa.

Gráfico 3 – Passageiros Reino Unido em Lisboa, Porto, Faro quantidade
(milhares)


Fonte: Elaboração própria com base em Informação ANA

O gráfico 4 ilustra, a evolução de passageiros oriundos do Reino Unido

-em Lisboa, Porto e Faro em parte do total de cada um dos três aeroportos,

-do total destes aeroportos no tráfego total dos três aeroportos.

Gráfico 4 – Passageiros Reino Unido em Lisboa, Porto, Faro parte do total
(milhares)


Fonte: Elaboração própria com base em Informação ANA

Observemos Algarve, Lisboa e Porto com base nos dois gráficos em conjunto.

O Algarve é o destino regional mais exposto à desvalorização da libra:

-em 2015 são 3.5 milhões de turistas e 54,1% de parte de mercado,

-os operadores turísticos de package holiday representam parte importante da procura (pelo menos 50%),
-há enorme pressão para que Antalya e Sharm el Sheik reabram ao turismo e estão fora do euro.

No caso de Lisboa temos de considerar

-uma quantidade importante de 2.0 milhões de passageiros, mas uma parte de mercado de apenas 5,7%,

-não há operadores de package holiday capazes de desviar tráfego.

O caso do Porto é idêntico a Lisboa na ausência de operadores, mas

-é o inverso de Lisboa, com apenas 636k passageiros mas uma parte do total de 7,9%.

3.Notas finais
*Evolução da cotação da libra em euros
Não mencionamos prognósticos sobre a evolução da libra e não consideramos possíveis consequências de um terramoto Trump. Retemos dois factos:

-se a desvalorização da libra a partir do início de 2013 se mantiver/acentuar, vir a Portugal está cada vez mais caro para os residentes no Reino Unido, e pode haver uma queda da procura,

-no Algarve, o desvio de turistas de Turquia e Egipto pode compensar a queda de turistas gerada pela libra, mas a aumentará a pressão para que os turistas regressem a Antalya e a Shark el Sheik.

*Turismo e transporte aéreo em Portugal
Ao leitor que deseje uma informação mais completa sobre este e outros temas recomendamos o Relatório Turismo e Transporte aéreo em Portugal que acabamos de publicar.

Os cinco volumes estão disponíveis em http: http://www.ciitt.ualg.pt/
ou

I Parte – Da década 1950 à transformação do mercado europeu dos anos noventa

II Parte – Indústrias europeias do transporte aéreo

III Parte – Tráfego aéreo no total dos três aeroportos (Lisboa, Porto e Faro) – continentes, países e empresas

IV Parte – Passageiros nos aeroportos de Lisboa, Porto e Faro – continentes, países e empresas

V Parte – Procura/oferta de turismo e intervenção pública - Inclui Anexo - Package holiday e independent travel no Algarve (da década de 1990 à actualidade)


A Bem da Nação

Lisboa 2 de Novembro de 2016


Sérgio Palma Brito

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