Do Centro de Congressos que falece à cidade de Lisboa


O novo Centro de Congressos de Lisboa vem a público nas piores condições. O governo opõe-se e integra o assunto na campanha eleitoral em curso. A Associação da Hotelaria de Portugal exclui liminarmente a sua promoção.

Intervimos como outsider atento, interessado e preocupado. Não somos ‘a favor/contra’, não escondemos o apoio à promoção do novo CdeC, mas aguardamos o estudo prévio que confirme a sua viabilidade.

Dois posts são a nossa contribuição para o escrutínio dessa viabilidade:

-Do Centro de Congressos que falece à cidade de Lisboa – contexto da sua promoção (aqui),

-Do Centro de Congressos que falece à cidade de Lisboa – pontos prévios e críticos da sua promoção (aqui).

 

Para facilitar a leitura dos posts elaborámos uma versão integrada em PDF acessível aqui.

Votos de boa leitura!

 

A Bem da Nação

Lisboa 30 de Novembro de 2014

Sérgio Palma Brito

Do Centro de Congressos que falece à cidade de Lisboa – pontos prévios e críticos da sua promoção


O novo Centro de Congressos de Lisboa vem a público nas piores condições:

-o governo opõe-se e integra o assunto na campanha eleitoral em curso,

-a Associação da Hotelaria de Portugal, sem estudo prévio, exclui um novo Centro de Congressos em Lisboa.

O debate sobre o novo Centro de Congressos em Lisboa justifica dois posts:

-Do Centro de Congressos que falece à cidade de Lisboa – contexto da sua promoção (aqui),

-Do Centro de Congressos que falece à cidade de Lisboa – fase zero da sua promoção.

O título comum aos dois posts é inspirado por Francisco de Holanda com a sua Da fábrica que falece à cidade de Lisboa (wiki).

Intervimos como outsider atento, interessado e preocupado. Não somos ‘a favor/contra’, não escondemos o apoio à promoção do novo CdeC, mas aguardamos o estudo prévio que confirme a sua viabilidade.

Os dois posts são a nossa contribuição para o escrutínio dessa viabilidade.

 

2.Pontos prévios e críticos da promoção do novo Centro de Congressos em Lisboa

 

2.1.Pontos prévios na promoção do Centro de Congressos

*Consenso que ultrapassa a politics da política e do associativismo
Criadas as Taxas Turísticas Municipais e do Fundo de Investimento Turístico, a CML tem de

-abrir a via para consensos políticos, a nível nacional e local, porventura facilitados pelas próximas eleições legislativas,

-trabalhar com a iniciativa privada directamente interessada (1) no negócio do novo CC e em função desse interesse.

Neste âmbito, iniciativa privada directamente interessada inclui

-a indústria da hotelaria de Lisboa, com papel fundamental e sem politics,

-estabelecimentos de restauração/bebidas, de comércio de luxo, de intermediação especializada e outros.

Em função do interesse, porque estamos no âmbito do negócio turístico e não do democrático ‘uma empresa/um voto’.

*Separar o CdeC da criação das Taxas Turísticas Municipais
A promoção do novo CdeC deve ser analisada e avaliada sem começar pelas Taxas Turísticas Municipais. As taxas estão criadas, pelo que

-muito do que se passou é ultrapassado pela realidade (post anterior),

-devem ser consideradas no âmbito do modelo de financiamento do CdeC. 

*Abertura de informação e transparência
A CML

-abandona a confidencialidade que tem marcado a preparação do CdeC, e

-garante abertura de informação e transparência em todo o processo.

Estes pressupostos são condição do sucesso da promoção do CdeC porque

-responsabilizam os actores do processo e avaliar o seu desempenho,

-permitem o escrutínio público de investimento público a fundo perdido e de gestão privada.

*Plataforma informal de concertação e task force no seio da ATL
Para assegurar estes princípios, a CML cria 

-plataforma informal com a iniciativa privada interessada, que evolui para parceria na promoção e funcionamento do Centro,

-task force no seio da ATL para coordenar todo o processo.

Insistimos em estar em causa a iniciativa privada directamente interessada no CdeC e que intervém em função desse interesse.

*Avaliar Hipótese Zero versus novo centro de congressos
A parceria informal avalia a Hipótese Zero com base em respostas a questões como

-pode a actual FIL responder às exigências novo CC, com reconversão de instalações, equipamento tecnológico e modelo de gestão com empresa especializada e não AIP?

-e se não pode, quais os termos em que o actual Centro de Congressos da Junqueira sai do mercado?

*Centro de Congressos, envolventes e localização
O Centro de Congressos é indissociável

-de actividades envolvente que o completam e sem as quais é apenas um edifício,

-da envolvente urbana propriamente dita em que se insere.

Fixar a localização óbvia do CdeC simplifica o trabalho que segue. Salvo incidente, a localização é o alto do Parque Eduardo VII, entre outros por ser

-local nobre da cidade, de acesso fácil e proximidade a muitos hotéis do turismo, com vários a walking distance.

A localização deve ser validada pela abertura ao exterior [ver a seguir].

 

2.2.Pontos críticos na promoção do Centro de Congressos

*Grandes linhas da justificação económica do DdeC
A justificação económica do CdeC assenta em três grandes linhas (2):

-as deslocações turísticas para eventos da Meetings Industry (3) geram mais valor do que as individuais, e em muitos casos exigem centro de congressos indispensável à sua captação em mercado muito competitivo,

-o prioritário aumentar da rentabilidade da indústria da hotelaria de Lisboa passa por mais procura nas deslocações de lazer e sobretudo em eventos da MI, para os quais o novo Centro de Congressos é determinante,

-quantificação profissional credível que exclua o frequente iludir a realidade.

*Abertura ao exterior e exigências do mercado
O post anterior o CdeC ilustra falta de abertura ao exterior por parte dos actores do processo, que ignoram exigências do mercado da MI do futuro como assinalámos de maneira algo canhestra (aqui e aqui).

Abertura ao exterior e exigências do mercado da meetings industry do futuro devem dominar todos os passos que seguem, da estimativa da procura à elaboração do projecto.

*Estimativa da procura
Uma correcta estimativa da procura é factor crítico de sucesso na promoção do CdeC. Entre outras, é preciso estimar

-a procura que foi perdida até hoje por insuficiência do actual CdeC,

-a que se pode ganhar com maior capacidade do CdeC e qual capacidade para qual nível de procura.

Na prática, a estimativa da procura está interligada com o programa do CdeC:

-só procura adicional pode justificar investimento adicional.

A responsabilidade e escrutínio referidos antes são indispensáveis a uma séria conjugação de procura/programa.

*Definição do programa
Para além da abertura ao exterior, o programa do CdeC resulta de escutar os utilizadores, analisar a concorrência, opinião de empresa exploradora:

-não há euro de investimento sem justificação pelo valor que cria, nem investimento que ignore a rentabilidade da gestão e ainda menos instalação que concorra com salas existentes – do Coliseu ao Campo Pequeno.

O programa do CdeC é diferente de casos como CCB, Casa da Música, Gare do Oriente, Pavilhão de Portugal, CdC de Santa Maria da Feira, entre outros.

O programa deve ter em conta as envolventes referidas nos Pontos Prévios.

*Modelo de exploração
Salvo informação que desconheçamos, a exploração do CdeC deve ser assegurada por empresa internacional especializada, com provas dadas e activa na captação de eventos [ver Barcelona].

A exploração deve ser sustentável e a cargo de empresa privada com respeito de regras de mercado [ver a seguir].

A valia do contributo da empresa de exploração e a necessidade de a responsabilizar fazem com que deva participar na definição do programa, elaboração do projecto e acompanhamento das fases seguintes da promoção – há que esclarecer como conciliar este acompanhamento com a decisão sobre a empresa exploradora.

*Barcelona – investimento impossível e gestão inspiradora
O modelo de promoção e programa do Centre Convencions Internacional de Barcelona não são replicáveis em Lisboa. Diferente é o caso da exploração do CCIB, concedida à GL events CCIB, empresa com 80% do capital detido pela GL – Events (gl-events), 12% pelo Município e 8% pela Associados Hoteleiros de Barcelona.

Esta opção deve ser considerada em Lisboa. A GL – Events e empresas similares valem contacto exploratório.

*Modelo de investimento e financiamento
Há dois grandes princípios a respeitar:

-investimento municipal não remunerado e garantia de manutenção pela exploração,

-exploração privada rentável depois de assegurada a manutenção do CdeC e fundo de reserva para grandes reparações. 

O investimento municipal é financiado pelo Fundo de Desenvolvimento Turístico e pelo orçamento municipal. A responsabilização e escrutínio que propomos criam um risco: 

-passarmos de investimentos perdulários para excesso de exigências sobre a rentabilidade do CdC que pode comprometer a sua promoção.

Erros crassos e evidentes como o de Santa Maria da Feira não podem levar a excesso de rigor no caso do CdeC.

*Governança do Centro de Congressos
A promoção do CdeC é da responsabilidade da CML e é por esta conduzida. A parceria informal entre CML e iniciativa privada interessada deve evoluir para parceria na exploração segundo um de dois modelos:

-mero acompanhamento,

-participação na empresa de exploração, como acontece em Barcelona.

*Elaboração do projecto
A elaboração do projecto do CdeC supõe decisão de o promover e implica

-escolha de gabinete de arquitectura com experiência comprovada em centros de congressos de sucesso,

-acompanhamento pela parceria entre CML e iniciativa privada, com recurso a todos os inputs considerados úteis,

-input da empresa de exploração e sua responsabilização.

 
A Bem da Nação

Lisboa 29 de Novembro de 2014

Sérgio Palma Brito

 

Informação adicional

(1)Iniciativa privada directamente interessada e em função do interesse
A CML decide informar a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) e negociar com esta associação a criação de Taxas Turísticas Municipais ligadas à promoção do Centro de Congressos. O princípio de informar a AHP deveria ser alargado à AHRESP e está certo.

Está em causa é a industria da hotelaria de Lisboa directamente interessada no CdeC e é com ela que a CML deve ir mais longe do que negociar, para criar parceria informal co possível formalização na exploração do CdeC. Esta opção tem duas consequências importantes:

-evita a proeminência da fatal oposição da AHP que tem âmbito e base eleitoral nacionais e sensível ao facto de uma taxa em Lisboa fomentar taxas em muitos municípios,

-em função do interesse altera o peso dos parceiros – basta considerar que o Grupo Pestana tem uma Pousada e um hotel (este perto do CdeC da Junqueira) e o Grupo Vila Galé tem apenas um hotel … com a localização mais competitiva em relação ao CdeC da Junqueira.

(2)Grandes linhas da justificação económica do centro de congressos e sua quantificação realista e credível
As grandes linhas justificação económica do novo Centro de Congressos de Lisboa podem ser sintetizadas como segue:

i)Importância de um novo Centro de Congressos
Na economia do turismo as deslocações por motivo de negócios são as que geram mais valor para o destino.

Estas deslocações dividem-se em dois grupos:

-o das deslocações individuais (em linguagem corrente, o corporate individual), que dependem de haver sedes de empresas e estabelecimentos em Lisboa e do crescimento da economia – em grande parte são um mercado cativo e gerado por estas empresas,

-o das deslocações da Meetings Industry [definição em Anexo], que geram mais valor do que as individuais e são decididas em mercado muito competitivo.

Para Lisboa ter sucesso neste mercado, o Município, oferta de serviços e intermediação especializada têm de conjugar esforços para atrair eventos da MI.

Quando a realização destes eventos exige um centro de congressos (1), a capacidade deste responder às exigências do mercado é factor crítico de sucesso na sua captação.
ii)Rentabilidade da industria da hotelaria e deslocações turísticas da Meetings Industry
Por outro lado, a indústria da hotelaria em Lisboa tem conhecido problema de rentabilidade insuficiente.

A título de exemplo, o Hotel Valuation Index da HVS mede a rentabilidade dos hotéis de quatro e cinco estrelas em cidades da Europa, e nele,

-Lisboa ocupa a 27,ª posição, com €131, melhor do que Atenas (€112, 29.ª), mas abaixo da líder, Paris (€671), de Barcelona (€243 11.ª) e de Madrid (€185, 19.ª),

-em 2013, e a preços correntes o Valor por Quarto de Hotel é inferior ao de antes da crise: €131 contra os €167, de 2007.

Em síntese,

-os ganhos de rentabilidade da indústria da hotelaria de Lisboa passam por mais procura nas deslocações de lazer e sobretudo em eventos da MI, para os quais o novo Centro de Congressos é determinante.

iii)Quantificar a justificação económica
Quantificar a justificação económica do novo Centro de Congressos de Lisboa exige trabalho profissional realista e credível.

A tentação de iludir a realidade, como tantas vezes acontece, tem de ser liminarmente excluída.

(3)De MICE à Meetings Industry
O mercado do MICE compreende Meetings, incentives, conferences, and exhibitions, podendo o E ser de Events e o C de Conventions. Podemos traduzir Exhibition por Feira – esta é a actividade principal dos pavilhões da FIL no Parque das Nações.

A mais recente designação de Meetings Industry justifica-se por haver Meetings que não cabem na definição rígida de MICE – entre outros é o caso de ‘meetings’ tão importantes como as apresentações de novos modelos de automóveis.

Por outro lado, há muitos ‘meetings’ que não exigem um Centro de Congressos.

Segundo a IAPCO – International Association of Professional Congress Organizers (aqui), as definições são:

-Meeting - general term indicating the coming together of a number of people in one place, to confer or carry out a particular activity. Frequency: can be on an ad hoc basis or according to a set pattern, as for instance annual general meetings, commitee meetings, etc.

-Incentive - meeting event as part of a programme which is offered to its participants to reward a previous performance.

-Conference - participatory meeting designed for discussion, fact-finding, problem solving and consultation.  As compared with a congress, a conference is normally smaller in scale and more select in character - features which tend to facilitate the exchange of information. The term "conference" carries no special connotation as to frequency. Though not inherently limited in time, conferences are usually of limited duration with specific objectives.

-Exhibition - Events at which products and services are displayed.

Turismo – “factor de riqueza” ou “meio seguríssimo” de “simples propaganda política” ?


Pires de Lima é ministro sensível à economia. Não esperávamos que o que há de alucinogénio na política nacional o levasse a privilegiar a politics (politiquice é aborrecido) sobre a economia.

Aconteceu com a oposição às Taxas Municipais de Turismo de Lisboa e ao novo Centro de Congressos. Parece estar a acontecer com a descriminação de Lisboa no Fundo de Apoio a Congressos – ver vitor-costa-critica-discriminacao-de-lisboa-no-novo-fundo-de-apoio-a-congressos.

Pires de Lima não é o primeiro nem será o ultimo a utilizar a exposição mediática do turismo para esquecer o “factor de riqueza” e optar pela “simples propaganda política”.

Tem antecedente ilustre, que recordamos.

António Ferro também faz esta opção, mas clarifica o dilema. A 13 de Fevereiro de 1940, dez dias após ter recebido as novas competência em matéria de turismo, optimista e determinado começa por reconhecer a importância económica do turismo:

 -“É uma indústria que, na sua evolução, só pode favorecer Portugal e os Portugueses. Mas podendo ser um factor de riqueza para as empresas particulares que o exploram e para as terras onde se desenvolve ou venha a desenvolver-se, pode ser igualmente uma grande fonte de riqueza para o próprio Estado, industrial do turismo por outros caminhos, não pelas taxas mínimas que percebe mas pelas estradas de oiro que a sua acção inteligente pode abrir.”. ”.

Depois, distancia-se da economia:

-“Mas estes são, afinal, os aspectos materiais do problema, os mais banais, os mais conhecidos, mas não, de momento, os que nos interessam.”.

Define a prioridade:

-“Se o turismo é um problema sério, e não um simples passatempo, é porque está ligado, directa ou indirectamente, a quase todos os problemas nacionais, contorno indispensável da nossa renovação, seu necessário acabamento. O turismo perde assim o seu carácter de pequena e frívola industria para desempenhar o altíssimo papel de encenador e decorador da própria Nação […] O prestígio internacional duma nação é consequência, em certos aspectos, da sua organização de turismo. Não tenhamos ilusões! […] O turismo, é portanto, além dum indiscutível factor de riqueza e de civilização, um meio seguríssimo não só de alta propaganda nacional como de simples propaganda política.”.

Feitas as habituais referências aos nossos recursos e potencial turísticos, António Ferro elogia a obra do Regime e fixa um objectivo:

-“Agora, sim, podemos começar a fazer turismo, podemos imediatamente enfrentar o problema e estudá-lo a valer […] Se nos compreendermos, como espero, se percebermos que a nossa finalidade é comum, poderemos realizar uma grande obra, transformar Portugal, em poucos anos, no país número 1 do turismo, numa Suíça com menos encenação, mais rústica”.

Pires de Lima ainda não chegou a Portugal vir a ser o “país número 1 do turismo”. Até às legislativas ainda pode chegar.

 

A Bem da Nação

Lisboa 28 de Novembro de 2014

Sérgio Palma Brito

Do Centro de Congressos que falece à cidade de Lisboa – contexto da sua promoção


A promoção de um novo Centro de Congressos em Lisboa vem a público nas piores condições:

-o governo opõe-se e integra o assunto na campanha eleitoral em curso,

-a Associação da Hotelaria de Portugal, sem estudo prévio, exclui um novo Centro de Congressos em Lisboa.

O debate sobre o novo Centro de Congressos em Lisboa justifica dois posts:

-Do Centro de Congressos que falece à cidade de Lisboa – contexto da sua promoção,

-Do Centro de Congressos que falece à cidade de Lisboa – pontos prévios e críticos da sua promoção (aqui).

O título comum aos dois posts é inspirado por Francisco de Holanda com a sua Da fábrica que falece à cidade de Lisboa (wiki).

Intervimos como outsider atento, interessado e preocupado. Não somos ‘a favor/contra’, não escondemos o apoio à promoção do novo CdeC, mas aguardamos o estudo prévio que confirme a sua viabilidade.

Os dois posts são a nossa contribuição para o escrutínio dessa viabilidade.

 

Post publicado em 18 de Novembro, revisto a 20 e republicado a 29.

 

Introdução aos dois posts

*As exigências do sucesso do turismo em Lisboa
O recente surto de turismo em Lisboa começa por volta de 2003/2004 e está a ser um sucesso, que gera problemas e interrogações.

A continuidade do sucesso ao longo dos próximos anos exige qualificar a conjugação de governança nacional e municipal, iniciativa privada e opinião pública. 

O Centro de Congressos que falece à cidade de Lisboa é decisivo para esta ser competitiva no exigente mercado da Meetings Industry. O sucesso neste mercado condiciona a criação de valor pela economia do turismo em Lisboa.

A promoção do novo Centro de Congressos é um teste à capacidade de conjugação de esforços pelas quatro forças envolvidas.

*Ultrapassar o tempo da politics e de interesses conservadores
A construção do novo Centro de Congressos de Lisboa está na ordem do dia pelas piores razões: entrou na espiral destrutiva do que há de pior na politics da política, de interesses associativos conservadores.

Por seu lado, esta desastrada ordem do dia está prejudicada pela campanha eleitoral em curso e pelo ressuscitar do pior que há na relação entre política de turismo e indústria da hotelaria.

A opinião de quem conhece Portugal e do conselho que nos foi dado, é a deste contexto excluir a viabilidade de qualquer tentativa de debate objectivo sobre a promoção do Centro de Congressos. Sem ignorar este sábio aviso, é nossa opinião ser este o terreno fecundo para intervenção independente e para além de politics e interesses conservadores.

Esta é a origem dos dois posts sobre o Centro de Congressos.

 

1.Contexto da promoção do novo Centro de Congressos em Lisboa

*Janeiro de 2014 – informação da Associação Turismo de Lisboa
Em Janeiro de 2014 (1), o director-geral da Associação de Turismo de Lisboa aborda a Meetings Industry, lembra que "Lisboa atingiu o limite de crescimento neste segmento" e destaca a falta um centro de congressos com capacidade para até seis mil pessoas, o que elevará a cidade ao top 10 europeu dos grandes eventos.” Citamos Vítor Costa:

-"Só há nove cidades europeias com capacidade para captar alguns dos 140 eventos com mais de 3.500 pessoas que se realizam, anualmente, na Europa. Se tivéssemos a estrutura que falta, seriamos capazes de receber, de forma muito competitiva, alguns desses congressos".

-"É uma oportunidade importante, é preciso é que o Governo se decida a fazer investimentos nesta conjuntura de austeridade".

*Iniciativa municipal entre Janeiro e início de Outubro de 2014
Entre Janeiro e Outubro de 2014, a CML prepara duas iniciativas:

-criar Taxas Turísticas Municipais com receita a consignar num Fundo de Desenvolvimento Turístico destinado a financiar investimentos estruturantes, com o Centro de Congressos à cabeça,

-estudo prévio de difusão restrita sobre programa e financiamento do CdeC.

Com a informação de que dispomos, a CML comete três erros

-falta de abertura em dois processos fatalmente objecto de muito escrutínio público – só em Outubro a Associação de Hotelaria de Portugal é informada,

-anúncio das Taxas Turísticas Municipais no timing do Orçamento para 2015 e dessincronizado do timing da relação com a iniciativa privada,

-privilegiar o contacto com a AHP, fatalmente influenciada por problemas a nível nacional, e não com a industria da hotelaria de Lisboa directamente interessada no CdeC e em função desse interesse. 

*AHP – da negociação (7 de Outubro) à ruptura (10 de Novembro)
Sabemos que em 7 de Outubro (2) o vice-presidente Fernando Medina informa a AHP sobre a intenção do Município criar as taxas turísticas – aparentemente não menciona o novo CC. Segundo o Expresso, este email “levou a associação a criar um ‘grupo de trabalho’ para estudar o assunto”.

Ainda segundo o Expresso,

-“Os hotéis sempre foram contra as taxas, mas a AHP foi encostada à parede pela câmara e a ideia foi: já que vêm aí as taxas, ao menos que isto reverta a favor do turismo” e “nada ficou acordado nem houve qualquer acordo”, como uma “fonte ligada ao processo” informa o Expresso.

-“a direcção da AHP colaborou com a autarquia sem ouvir previamente os associados, e contrariando posições anteriores”.

A 5 de Novembro, a AHP escreve à CML. Segundo o Expresso “ficou expresso que a proposta teria de ser aprovada no conselho geral da associação, agendado para 10 de Novembro”.

O Diário de Notícias (3) dá informação adicional sobre a negociação entre CML e AHP. O Presidente afirma: "A primeira proposta do Fernando Medina era que fosse uma taxa diferenciada, como existe em Barcelona, mas nós defendemos que tinha de ser uma taxa plana, igual para toda a cadeia de turismo". A AHP esclarece que não queria apenas uma taxa "cobrada aos hotéis", mas "sendo paga por toda a gente, desde os tuk tuk até a um grande hotel". A AHP consegue que a CML desista da taxa diferenciada.

Aqui surge a “fonte governamental” citada pelo Expresso:

-“Como é possível que alguém que processou a Câmara de Aveiro quando lançou a taxa turística, agora aceitasse esta taxa como inevitável, só porque era António Costa, apoiado apenas por dois ou três hoteleiros?”.

O Governo vai encarregar-se de corrigir o que considera ser uma contradição nas posições da AHP.

*“Pires de Lima mobilizou os hotéis contra Costa”
O Expresso de 14 de Novembro informa-nos como “Pires de Lima mobilizou os hotéis contra Costa” durante os dias que antecedem a reunião do conselho geral da AHP, na Segunda-Feira 10 da parte da tarde:

-“Esta semana circulavam rumores, em meios ligados ao turismo, sobre pressões que teriam sido exercidas pelo Ministro da Economia sobre os hoteleiros, no sentido de os alinhar contra a iniciativa da CML”.

O Expresso cita o Ministro:

-“Não fiz pressão absolutamente nenhuma”,

-“num certo sentido, zelei pela consistência da posição dos hoteleiros, que sempre foram contra estas taxas e não viam necessidade de um novo centro de congressos em Lisboa”,

-“Limitei-me a alertar algumas pessoas que fazem parte da AHP para o que se estava a passar, e elas depois tomaram as decisões que tomaram”.

Não gostamos desta personalização. Pires de Lima é Ministro da Economia e quando diz “alertar” é o Governo que alerta, seja lá o que isto quer dizer.

Em quase cinquenta anos de turismo em Portugal, assistimos a muita intervenção excessiva e abusiva de Governo e Administração na actividade associativa e junto de empresários. Nunca vimos este assumir de uma intervenção que diz muito sobre o que há de errado na relação entre política e administração de turismo e iniciativa privada.

*Manhã de 10 de Novembro de 2014 – a taxa municipal
Na manhã de 10 de Novembro a Câmara Municipal apresenta o orçamento para 2015 (4). Sobre “Investir no Turismo do Futuro” destaca que “Mais e melhor turismo exige novos investimentos” e o primeiro destes é o “Novo Centro de Congressos no Centro da Cidade”. Seguem duas propostas:

-“No âmbito do diálogo com a Associação de Hotelaria de Portugal (AHP), propomos ao sector do Turismo criar o Fundo de Desenvolvimento Turístico de Lisboa

-Financiar estes projectos através de uma taxa turística de €1 sobre as dormidas e €1 sobre as chegadas de turistas ao aeroporto e ao porto de Lisboa.”.

Segundo o Expresso do dia 14, “a Câmara ‘saltou por cima dos hoteleiros’ ao aprovar o orçamento nesse dia [10 de Novembro], em esperar a decisão do conselho geral, que decorreu horas depois”.

Aqui, ou o Expresso está mal informado ou não compreendemos a atitude da CML, que rompe o acordado, na manhã do dia da reunião do Conselho Geral da AHP e quando certamente conhece o “alertar” do Governo.

*Taxa e não o Centro de Congressos domina a comunicação social
Imediatamente depois (11H48), o título do Publico online é “Câmara de Lisboa avança com taxa turística que Pires de Lima não queria” (5). Segundo documento a que o Publico tem acesso, a taxa “terá como destinatários os turistas da cidade, chamados assim para contribuir na manutenção e investimento público realizado/a realizar pelo município nesta área” e financia um “Fundo de Desenvolvimento Turístico”.

Por seu lado, o Presidente da Câmara afirma 

-"Não é uma receita municipal. É uma receita consignada ao fundo",

-"não será feita exclusivamente pela câmara", mas sim "em processo de co-decisão com os parceiros" do sector do turismo, que serão chamados a pronunciar-se sobre quais os investimentos que "reconhecem como mais-valias" para esta área.

*Tarde de 10 de Novembro – reunião do Conselho Geral da AHP
A apresentação da CML a violar o acordado com a AHP e o destaque pela comunicação social reforçam a intervenção do Governo em condicionar a reunião do Conselho Geral da AHP. Segundo o Expresso,

-“Nesta altura, já o lóbi de Pires de Lima junto dos hoteleiros teria surtido efeito, tendo levado ao conselho geral empresários que não costumam ir a estas reuniões”,

-“Os telefonemas de Pires de Lima aos hoteleiros foram decisivos para que conselho geral da AHP, na segunda-feira à tarde, resultasse num esmagador ‘não’ àquilo que Costa tinha anunciado poucas horas antes”.

A posição do Conselho não se limita ao recusar das taxas e vai mais longe:

-sem debate publico, sem estudo que sustente a sua posição e por unanimidade, os hoteleiros recusam e condenam liminarmente a promoção do novo Centro de Congressos.

Ficamos a conhecer os argumentos durante a conferência de imprensa que segue.

*Fim de dia de 10 de Novembro – conferência de imprensa da AHP
Na conferência de imprensa depois da reunião (6), o Presidente da AHP declara:

-"Não à taxa e não à construção de um centro de congressos. Nesta altura, é inoportuno avançar com um centro de congressos que vai custar 57 milhões de euros. Os hoteleiros não estão interessados, nem Lisboa está interessada neste investimento".

O Presidente

-discorda do dinheiro do fundo de desenvolvimento turístico estar “consignado claramente" para a construção do futuro centro de congressos, projecto considerado "âncora" pelo município, no âmbito do Plano Estratégico de Turismo definido para a cidade, com o objectivo de colocar Lisboa na rota do mercado internacional de congressos,

-defende que há espaços na capital que, depois de recuperados e requalificados, podem receber congressos, até porque apenas um terço se realiza em centros de congressos idênticos àquele projectado para Lisboa.

-disse ainda haver outras prioridades na cidade, como "tapar buracos, arranjar os passeios ou tratar do lixo", antes de se avançar com "megaempreendimentos".

-adverte que "Seria bom que a Câmara de Lisboa revisse esta posição, até pelo desgaste que ela pode trazer, tendo em conta o contexto político actual",

-frisa que os hoteleiros temem que, caso a Câmara de Lisboa avance com a Taxa Municipal Turística, o modelo possa ser seguido por outras autarquias do país e acrescenta que "Os hoteleiros não se revêem nesta proposta que torna Lisboa numa cidade mal vista e não amiga dos turistas".

*Esclarecimento sobre hoteleiros e centro de congressos
Na guerra das taxas turísticas de Lisboa, criticámos a posição dos hoteleiros de Lisboa em ir mais além da recusa das taxas para recusar liminarmente a promoção de um novo Centro de Congressos (aqui e aqui).

A nossa fonte de informação são estas declarações do Presidente da AHP, a 10 de Novembro depois da reunião do Conselho Geral. Depois de lermos quase todos os online, escolhemos a notícia do Dinheiro Digital, por ser a mais completa.

Dado o absurdo desta posição e conhecimento pessoal de muitos dos hoteleiros, falámos com alguns e não haverá recusa em estudar o assunto.

Com base no que dizem, o Presidente da AHP deveria ter acrescentado:

-“Os hoteleiros estão disponíveis e interessados em estudar a promoção de um novo Centro de Congressos, com modelo de financiamento a definir”.

*Esclarecimento sobre taxas turísticas municipais em Lisboa
A 19 de Novembro, a Câmara Municipal aprova o Orçamento para 2015 nos termos da apresentação feita no dia 10 de Manhã e abre consulta pública, até 3 de Dezembro, sobre as taxas turísticas municipais em Lisboa.

Feito isto, imporá listar os ‘novos investimentos’ previstos no Plano Estratégico de Turismo 2015-2019:

-Novo Centro de Congressos no Centro da Cidade,

-Requalificação da Estação Sul-Sueste / Gare marítimo-turística,

-Instalação de espaço museológico dedicado às Descobertas,

-Criação de “Mobilidades Suaves para o Castelo”,

-Projeto de sinalética turística e de percursos turísticos”

-Continuação da requalificação da frente ribeirinha (como exemplo o Cais do Sodré, Campo das Cebolas e Belém).

*Que fazer?
A ‘conjugação de governança nacional e municipal, iniciativa privada e opinião pública’ é um modelo teórico, mas a sua degradação é total:

-Câmara Municipal erra na informação e mobilização das partes interessadas na promoção do Centro de Congressos,

-Governo integra as taxas e o novo Centro de Congressos na pior das politics da politica e na campanha eleitoral em curso,

-Governo interfere activamente junto de empresários para que a direcção da sua associação inverta a decisão de negociação com a Câmara Municipal,

-hoteleiros comprometidos publicamente contra a promoção do novo Centro de Congressos da cidade.

 

A Bem da Nação

Lisboa 29 de Novembro de 2014

Sérgio Palma Brito

 

Notas

(1)Dinheiro Vivo de 27 de Janeiro de 2014


(2)Expresso de 14 de Novembro de 2014 – as referências a Expresso têm esta fonte.

(3)Diário de Notícias de 14 de Novembro de 2014


(4)Ver apresentação em


e power point em


(5)Publico online em


(6)Se bem percebemos é noticia da Lusa – baseamo-nos em Dinheiro Digital de 11 de Novembro de 2014, às 10H43, em

O Centro de Congressos de Lisboa e a concorrência numa rapidinha


Já demos uma vista de olhos sobre “Centro de Congressos de Lisboa – olhar sobre a concorrência e o futuro” (Aqui).




A oposição liminar dos hoteleiros de Lisboa ao novo Centro de Congressos deve ser revista à luz do post de 18 e 20 de Novembro:

Do Centro de Congressos que falece à cidade de Lisboa – contexto da sua promoção


Na preparação de um post consistente sobre este estranho assunto (afinal, existe a cidade em que Governo e hoteleiros acham que não deve ser construído um Centro de Congressos), sugerimos uma pequena comparação entre a oferta de Lisboa e a de cidades concorrentes.

Como vimos, a oferta de Lisboa é a de um Centro de Congressos na antiga FIL, um edifício antigo e reconvertido, fatalmente inadequado à actualidade e menos ao futuro. Acresce uma localização que obriga a transfers custosos em tempo e dinheiro com os hotéis.

Agora google ‘Lisbon Convention Centre’. O que obtém é isto:




Depois vá aos sites da concorrência


 


 


No caso de Barcelona faça uma visita virtual. Veja como listam os ‘Nearby hotels’, com as suas 4.500 camas.

Veja em particular que a empresa que o gere é francesa e tem um impressionante portfólio de clientes em França e internacionais:


É capaz de chegar. Depois deste banho, ainda acha que a construção de um Centro de Congressos em Lisboa deve ser liminarmente excluída? Já agora, pense que motivações genuínas podem activar quem assim pensa?

Continuaremos a (tentar) animar o debate!

We will be back!

 

A Bem da Nação

Lisboa 16 e 20 de Novembro de 2014

Sérgio Palma Brito