Turismo 2013 e Desafio de 2015 – Proveitos do Alojamento Classificado e Receita de Viagens e Turismo


Este é o quarto post de uma série de sete (Primeiro, Segundo, Terceiro, Quarto, Quinto, Sexto, Sétimo) sobre

Turismo em Portugal – Números de 2013 e Objectivos Para 2015

Esta Série de posts é uma contribuição para avaliar os ´Resultados do Turismo em 2013’ e situar os Objectivos que o Governo deve atingir ainda nesta Legislatura.

 

O presente post pretende pôr em evidência que, entre a Receita de Viagens e Turismo da Balança de Pagamentos e os Proveitos do Alojamento Turístico Classificado,

-há uma diferença em Valor e Ritmo de Crescimento, que

-resulta das actividades económicas abrangidas por Receita e Proveitos.

Esta diferença questiona a Adequação da Politica de Turismo à Economia e é reforçada quando consideramos a Receita de Turismo na Balança de Pagamentos.

 

1.Diferença em Valor e Ritmo de Crescimento

1.Durante o período 1996/2013, Receita e Proveitos são diferentes em

-Valor: os Proveitos são sempre inferiores a 25% da Receita e em 2013 a diferença entre Proveitos (€1.96 bi) e Receita (€ 9.25 bi) é de €7.29 bi,

-Ritmo de Crescimento: a Receita cresce 150.1% e os Proveitos 108.3%, com a evolução 2010/2013 a ser mais significativa.

Esta é a primeira divergência entre Receita de Viagens e Turismo e Proveitos da Hotelaria.

2.Durante o período 2008/2003, a análise do Ritmo de Crescimento permite conhecer o impacte da Crise de 2008/2009:

-entre 2008/2013, a Receita cresce 24.3% e os Proveitos 0%, o que mostra a Receita a recuperar da Crise e os Proveitos a estagnar,

-entre 2009/2013, Receita cresce 33.9% e Proveitos 11.4%, com maiores diferenças no valor e ritmo de crescimento.

O crescimento da Receita entre 2009/2013 (€2.34 bi) é superior ao total dos Proveitos em 2013 (€1.96 bi).

Esta é a segunda grande divergência entre Receita de Viagens e Turismo e Proveitos da Hotelaria e a que exige análise mais profunda.

2.Actividades Económicas Abrangidas Por Receita e Proveitos

1.A diferença em Valor e Ritmo de Crescimento dos dois Indicadores é consequência

-da Receita de Viagens e Turismo resultar da Despesa de todos os Turistas, alojados seja Alojamento Turístico, Classificado ou Não,

-dos Proveitos da Hotelaria resultarem apenas da despesa dos Turistas no seio dos Empreendimentos do Alojamento Turístico Classificado (1).

Sugerimos consulta da versão inicial do futuro Post ‘Turismo, Alojamento Turístico e Turismo Residencial – Conceitos Formais e Terminologia’.

Por falta de informação estatística, a Análise das Actividades Económicas Abrangidas Por Receita e Proveitos é reduzida ao Alojamento Turístico Não Classificado.

2.Dois indicadores dão-nos uma ideia do contributo dos Hóspedes do Alojamento Turístico Não Classificado para a Receita de Viagens e Turismo.

Entre 2004/2007, o número de Hóspedes no Alojamento Não Classificado é de ‘cerca de 5 milhões’, o que compara com 7.1 milhões no Alojamento Classificado – a despesa de ‘cerca de 5 milhões’ de Turistas é um contributo significativo para a Receita de Viagens e Turismo.

O rácio entre Receita de Viagens e Turismo e Número de Dormidas no Alojamento Classificado (2) permite identificar o contributo dos Mercados Emissores de

-França, com mais Turistas Não Residentes (Emigrantes e Estrangeiros) a utilizar Alojamento Não Classificado e a contribuir para a Receita de Viagens e Turismo,

-Espanha, com compras de Excursionistas e parte importante da Receita Média com origem na utilização de Alojamento Não Classificado,

-outros países, com mix variável de Turistas Não Residentes (Emigrantes e Estrangeiros a utilizar dois Tipos de Alojamento Turístico: Residência Secundária e Alojamento Gratuito por Familiares e Amigos.

3.Não dispomos de informação quantificada sobre os Tipos de Alojamento Turístico do Alojamento Não Classificado utilizados pelo Turismo Receptor. Com base na parca informação disponível e o exemplo do Turismo Interno, podemos ‘fazer uma ideia’ sobre a importância de cada um destes Tipos de Alojamento por Turistas Não Residentes (Estrangeiros e Emigrantes Portugueses): Alojamento Gratuito Por Familiares e Amigos e Residência Secundária Utilizada Pelo Próprio ou Arrendada.

Este exercício é quase tão patético quanto foi o descontinuar os dois Inquéritos (Inquérito aos Movimentos de Pessoas nas Fronteiras e Inquérito aos Gastos Turísticos Internacionais) que nos dariam a Informação Estatística de que carecemos.

 

3.Adequação da Politica de Turismo à Economia

*Receita de Turismo na Balança de Pagamentos
O presente Post apenas analisa a Receita da rubrica de Viagens e Turismo, por ser a mais importante, mais conhecida e dispormos de quantificação considerada fiável.

Contudo, ao analisarmos a Adequação da Politica de Turismo à Economia, temos de considerar as outras parcelas da Receita de Viagens e Turismo [ver Ponto 2 do Post Receita].

*Politica de Turismo Inadequada às Exigências do Mercado e País
A Receita da rubrica de Viagens e Turismo ilustra a inadequação da Politica de Turismo às exigências do Mercado e do País. Com efeito, a Politica de Turismo

-não utiliza os conceitos das Instituições Internacionais sobre Turismo, Alojamento Turístico e Turismo Residencial (3),

-concentra toda a atenção apenas na Industria da Hotelaria, elemento muito importante, mas não exclusivo, do Alojamento Turístico,

-ignora/hostiliza/ilegaliza o Alojamento Turístico Não Classificado.

Ao adoptar estas orientações, a Politica de Turismo comete um duplo erro:

-não intervém para apoiar o aumento do contributo dos Hóspedes do Alojamento Não Classificado para a Receita de Viagens e Turismo,

-ao não reconhecer e valorizar o Alojamento Turístico Não Classificado, intervém para contrariar este contributo.

Daqui resulta que

-a Politica de Turismo perde muita da sua capacidade de aumentar a Receita do Turismo na Balança de Pagamentos, reconhecida como a prioridade da Economia do Turismo.

*Adequação da Politica de Turismo às Exigências do Mercado e País
A Politica de Turismo só pode contribuir para aumentar esta Receita de Turismo na Balança de Pagamentos, se intervir na despesa gerada pelos Turistas que escolhem alojar no Alojamento Não Classificado, a qual representa

-importante parte da Receita da rubrica de Viagens e Turismo,

-totalidade do Investimento de Não Residentes em Residências Secundárias e das Transferências para Reformados, ex Não Residentes,

-parte dos Serviços de Transporte Internacional de Passageiros, com destaque para a TAP.

 

3.Base Analítica da Diferença em Valor e Ritmo de Crescimento e da Origem Desta Diferença

3.1.Base Analítica da Diferença em Valor e Ritmo de Crescimento

*Evolução 1996/2013 a Preços Correntes
O Gráfico 1 ilustra a evolução 1996/2013 da Receita de Viagens e Turismo na Balança de Pagamentos e dos Proveitos Totais, de Não Residentes e de Residentes, do Alojamento Turístico Classificado. Quatro comentários:

-Proveitos são sempre inferiores a cerca de 25% da Receita,


-a Receita apresenta um crescimento de 150.1% e os Proveitos de 108.3%, com a evolução entre 2010/2013 a ser mais significativa.

Gráfico 1 - Receitas de Viagens e Turismo e Proveitos do Alojamento Turístico Classificado (1996/2013)
(euros)

Fonte: Elaboração própria com base em Banco de Portugal – Boletim Estatístico

*Evolução 2008/2013 – Reacções Diferentes à Crise de 2008/2009
O Gráfico 2 ilustra a comparação, entre 2008/2013, da Receita de Viagens e Turismo e Proveitos do Alojamento Turístico Classificado e permite conhecer o impacte da Crise de 2008/2009 e a diferença na reacção:

-Proveitos têm queda entre 2008/2009, e estabilidade entre 2008/2013, a confirmar que o Alojamento Classificado ainda não recuperou da Crise,

-Receita tem queda entre 2008/2009, em 2010 já é superior à de 2008 e o crescimento 2010/2013 é a ritmo superior aos anos anteriores.

Mais concretamente,

-entre 2008/2013, a Receita de Viagens e Turismo cresce 24.3% e os Proveitos do Alojamento Classificado 0%, o que mostra a Receita a recuperar da Crise e os Proveitos a estagnar,

-entre 2009/2013, a Receita de Viagens e Turismo cresce 33.9% e os Proveitos do Alojamento Classificado 11.4%, reforçando a existência de dinâmicas diferentes no Valor e Ritmo de Crescimento.

Gráfico 2 – Receita de Viagens e Turismo e Proveitos Totais do Alojamento Classificado (2008/2013)
(€ mil milhões)
Fonte: Elaboração própria com base em Banco de Portugal – Boletim Estatístico

 
3.2.Base Analítica da Origem da Diferença em Valor e Ritmo de Crescimento

*Turismo Receptor – Turistas e Hóspedes Entre 2004/2007
O Gráfico 3 ilustra a evolução 2004/2007 do número de Hóspedes Não Residentes em Portugal no Alojamento Classificado e Não Classificado. Este é o período durante o qual o INE assume a responsabilidade do Inquérito ao Movimento de Pessoas nas Fronteiras.

Gráfico 3 – Turistas e Hóspedes Não Residentes em Portugal no Alojamento Classificado e Não Classificado (2004/2007)
(milhões)
Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo

O número de Hóspedes no Alojamento Não Classificado é importante de maneira consistente e situa-se em “cerca de cinco milhões”. A despesa destes número tão elevado de Turistas

-representa contributo significativo para o Valor da Receita de Viagens e Turismo,

-pode ser factor importante para explicar a diferença do Ritmo de Crescimento ao longo de 1996/2013 e, em particular, entre 2009/2013.

*Receita de Viagens e Turismo e Número de Dormidas no Alojamento Classificado em alguns Mercados Emissores

O Gráfico 4 ilustra o rácio entre Receita de Viagens e Turismo e Número de Dormidas no Alojamento Classificado em alguns Mercados Emissores, em2012 – este Gráfico deve ser compara do com o Gráfico 5 do Post anterior (Terceiro).

Em princípio, quanto mais alta é a Receita Média, maior é a parte da Receita de Viagens e Turismo imputável a Hóspedes do Alojamento Não Classificado.

Gráfico 4 – Receita de Viagens e Turismo Por Dormida no Alojamento Turístico Classificado em Alguns Países (2012)
(euros)  
Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo

Comentários:

-o Mercado Emissor de França é o caso mais evidente do peso de Turistas Não Residentes a utilizar o Alojamento Turístico Não Classificado,

-no caso de Espanha, há compras de Excursionistas nas vilas fronteiriças, mas parte importante da Receita Média tem origem na utilização de Alojamento Não Classificado,

-nos outros países, há um mix variável de Emigrantes e de Turistas a utilizar dois Tipos de Alojamento Turístico: Residência Secundária e Alojamento Gratuito por Familiares e Amigos.

*Tipos de Alojamento Turístico do Alojamento Não Classificado

O Quadro 1 ilustra a nossa avaliação, com base na escala de 1 a 5, do contributo dos Hóspedes Não Residentes em quatro Tipos de Alojamento Turístico para a Receita de Viagens e Turismo, com detalhe por Estrangeiros e Emigrantes Portugueses. 

A publicação deste quadro visa levar o leitor a

-fazer o seu próprio esforço de avaliação,

-interiorizar que as despesas dos Emigrantes durante as suas estadias são contributo significativo para a Receita de Viagens e Turismo,

-defender que o INE retome os dois Inquéritos descontinuados em 2008 (Inquérito aos Movimentos de Pessoas nas Fronteiras e Inquérito aos Gastos Turísticos Internacionais), o que nos dará a Informação Estatística objectiva que substituirá este patético Quadro.

 

Fonte: Elaboração própria com base em avaliação pessoal.

 

A Bem da Nação

Albufeira 8 de Março de 2014

Sérgio Palma Brito

 

Notas

(1)Os Proveitos incluem também a despesa de Residentes em Portugal, entre outros, em Alojamento, Alimentação/Bebidas e Reuniões.

(2)O rácio entre Receita de Viagens e Turismo e Número de Dormidas no Alojamento Classificado nos Mercados Emissores é mais alto quanto maior é a parte da Receita de Viagens e Turismo imputável a Hóspedes do Alojamento Não Classificado.

(3)As Instituições são: United Nations Statistics Division, World Tourism Organization, Eurostat - Commission of the European Communities, OECD. Sobre Conceitos ver Post ‘Turismo, Alojamento Turístico e Turismo Residencial – Conceitos Formais e Terminologia’. Ver


 

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