Resultados do Turismo em 2013 – Politica e Realidade

Este é o primeiro post de uma série de sete (Primeiro, Segundo, Terceiro, Quarto, Quinto, Sexto, Sétimo) sobre

Turismo em Portugal – Números de 2013 e Objectivos Para 2015

Esta Série de posts é uma contribuição para avaliar os ´Resultados do Turismo em 2013’ e situar os Objectivos que o Governo deve atingir ainda nesta Legislatura.

O presente post é suscitado pela Conferência de Imprensa do Ministro da Economia e do Secretário de Estado do Turismo (1) a propósito da divulgação pelo INE dos primeiros resultados dos Empreendimentos Turísticos do Alojamento Classificado (Industria da Hotelaria) em 2013.

 
1.Sobre a Conferência de Imprensa

*A Hotelaria em 2013 – Duas Leituras dos Números do INE
A 13 de Fevereiro, o INE publica os primeiros resultados do Inquérito à Permanência de Hóspedes e Outros Dados na Hotelaria (2). O Ministro da Economia e o Secretário de Estado do Turismo organizam uma Conferência de Imprensa, porque

-Portugal teve ‘o melhor resultado de sempre do turismo’ e “o Governo quer reconhecer este mérito e dar nota que está empenhado em fortalecer o turismo como um sector económico de primeira linha”.

O SET explicita os recordes:

-“No mesmo ano, atingimos um record do número de hóspedes, de dormidas, de receitas da conta satélite do turismo, do saldo positivo dessa balança e dos proveitos globais de alojamento” (Sol de 21 de Fevereiro).

Nota: a referência a Conta Satélite é equívoco, pois o que está em causa é a Receita de Viagens e Turismo da Balança de Pagamentos.

Em nossa opinião, a realidade justifica mais preocupação do que festa:

-a estabilidade dos Proveitos a Preços Correntes entre 2008/2013 é o facto mais notório da Industria da Hotelaria em 2013 – o crescimento do número de Dormidas não altera, porventura reforça, a avaliação bem menos positiva que detalhamos no Segundo post,

-a Receita de Viagens e Turismo da Balança de Pagamentos é analisada em post específico (Terceiro) e demonstramos o erro do SET em não explicitar a diferença profunda entre Proveitos da Hotelaria e Receita de Viagens e Turismo (Quarto).

*Dormidas e Proveito Médio Por Dormida
O Gráfico 1 ilustra a evolução do Número de Dormidas entre 2004/2013, anos que figuram no Destaque do INE sobre o ano de 2013. Não podemos comentar o número de Hóspedes por não figurar no Destaque do INE, mas admitimos que o Governo saiba mais do que nós

Em síntese:

-a queda do número de Dormidas entre 2008/2009 é seguida de uma recuperação sustentada, que culmina com um crescimento de 5% entre 2012/2013 e o valor de 2013 a ser o máximo de sempre.

Gráfico 1 – Evolução do Número de Dormidas entre 2004/2013
(milhões)


Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo

O Gráfico 2 ilustra a evolução entre 2004/2013 do Proveito Médio Por Dormida, a Preços Correntes.

Em síntese, nesta evolução há três tempos:

-cresce de maneira sustentada entre 2004 e 2008 com um incidente em 2005,

-entre 2008/2009 cai, consequência directa da Crise, e estabiliza até 2011,

-entre 2011/2013 tem outra queda, consequência da incapacidade da Industria da Hotelaria em recuperar da Crise.

Gráfico 2 – Evolução do Proveito Médio Por Dormida (2004/2013)
(euros)


Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo

A análise destes números tem de ter em conta a possível margem de erro da estimativa do INE e ser detalhada a nível Regional e por Tipo de Empresa/Estabelecimento. O número global integra uma variedade de situações que não podem ser ignoradas.

Feita esta observação, a evolução do Proveito Médio Por Dormida

-indicia que a Competitividade da Industria da Hotelaria conhece problemas graves, que não pode ser escamoteados pela ligeira subida do número das Dormidas entre 2012/2013,

-exige uma análise e reacção objectivas por parte do Governo e Iniciativa Privada.

É neste contexto que insistimos na necessidade de dispormos de adequada Análise Estratégica da Indústria da Hotelaria. Na ausência desta Análise, estamos reduzidos

-ao alarido sobre a Oferta Paralela dos Apartamentos Dispersos de Lisboa e Porto (Aqui), típico exemplo de ‘inimigo externo’ para resolver problemas internos,

-ao pedido para o Governo criar Barreiras à Entrada na Industria, quando o mais adequado será diminuir as Barreiras à Saída, de modo a revitalizar Estabelecimentos obsoletos, que são propriedade de empresas que não o conseguem fazer.

*Conferência de Imprensa Deslocada  
A Conferência de Imprensa do Ministro da Economia e Secretário de Estado do Turismo é um exclusivo da Economia do Turismo, porque

-em nenhuma outra actividade económica de sucesso (Calçado, Têxtil, Agricultura, Industria etc.) assistimos a Conferência de Imprensa equivalente por membros do Governo,

-ao longo dos anos, deixámos que Politica invadisse o espaço da Informação Económica sobre a Economia do Turismo – bom é o Governo que inverta esta tendência e fazemos votos para que este ainda o faça.

*Declarações Inovadoras e Recuo da Politica  
Muito antes de António Pires de Lima ser Ministro, o Secretário de Estado do Turismo diferencia-se por declarações inovadoras, entre as quais

-insiste sobre os resultados do Turismo serem fruto das Empresas e não do Governo,

-exclui a quase tradicional identificação dos ‘bons resultados’ com o génio político do Secretário de Estado em exercício (3).

A Conferência de Imprensa de 13 de Fevereiro marca um recuo em relação a estas declarações. É um recuo algo absurdo. A experiência mostra que trazer resultados do Turismo para o campo da Politica é irrelevante em termos da imagem política do Governante (4) ou do Governo e prejudicial ao Posicionamento objectivo e profissional da Economia do Turismo.

*Posicionamento da Economia do Turismo  
A Economia do Turismo tem um deficit de Posicionamento perante o Sistema Politico e Administrativo e a Opinião Pública. Se ultrapassarmos a espuma do dia-a-dia, a Economia do Turismo não tem o reconhecimento que justifica e precisa. Basta considerarmos

-o reconhecimento concreto e objectivo de que beneficiam, entre outros, o Calçado, Têxtil, Vinho,

-as medidas fiscais e outras que penalizam directamente a Exportação de Serviços de Turismo, da Restauração ao Golfe,

-as disposições do Contrato de Concessão da ANA e a ausência de Regulação Económica forte do monopólio privado na Gestão Aeroportuária.

O Posicionamento que falta à Economia do Turismo exige Informação Estatística e uma Comunicação que abranja toda a Contribuição do Turismo Para a Economia. Conferências de Imprensa como a que teve lugar prejudicam este Posicionamento.

 
2.Sobre a Substância da Conferência de Imprensa
*Os Erros da Comunicação do Governo
Na substância, a comunicação do Governo comete erros já habituais:

-utilizar indicadores não quantificados, de que são exemplo o Número de Turistas ou da Conta Satélite do Turismo e o ‘peso’ deste no PIB,

-sobrevalorizar indicadores operacionais bons e ignorar o indicador dos Proveitos, mais importante mas claramente menos bom,

-ligar Proveitos do Alojamento Classificado e Receita de Viagens e Turismo da Balança de Pagamentos, sem explicitar a diferença que os separa,

-insistir em falar de “melhor ano turístico de sempre’, um erro a evitar.

*Em Portugal Não Há Conta Satélite do Turismo
Admitimos que o texto do Publituris não seja o melhor, mas citamos:

-“Adolfo Mesquita Nunes acrescentou que ‘este foi o ano em que a Conta Satélite do Turismo teve o contributo mais decisivo e determinante com o seu melhor resultado’”.

Independentemente do que o SET tenha afirmado (5), a realidade é esta:

-a Conta Satélite do Turismo é o instrumento da Macroeconomia que permite quantificar a Contribuição do Turismo Para a Economia,

-em Dezembro de 2010, o INE publica uma CST rudimentar e com lacunas, por falta de recursos humanos e materiais,

-nessa publicação, o INE considera que o Inquérito aos Gastos dos Turistas Internacionais “possibilitou uma melhoria significativa da CST” e que “Este inquérito foi descontinuado temporariamente o que tenderá a condicionar a frequência e o detalhe da CST.” (6).

Em síntese,

-não há mais nenhuma publicação de dados sobre a CST, pelo que o Secretário de Estado foi vítima da informação menos objectiva que lhe prepararam.

*Hóspedes, Dormidas e Proveitos
Na Conferência de Imprensa,

-há excessiva e injustificada ênfase nosdois recordes no turismo nacional, um ao nível de número de hóspedes mais de 14 milhões de pessoas, e outro ao nível de número de dormidas, mais de 41 milhões”,

-não há referência aos problemas com os Proveitos, que referimos antes.

Este valorizar do que corre bem e omitir o que corre mal (e até é mais relevante) já foi referido antes e é analisado nesta série de Posts.

*Proveitos da Hotelaria e Receita de Viagens e Turismo
Na péssima tradição do ‘Turismo Português’, o Ministro da Economia analisa Proveitos da Hotelaria e Receita de Viagens e Turismo, reforçando a ideia corrente que são dois indicadores compatíveis. Na realidade, a Politica de Turismo tem de ser a primeira a diferença entre

-Proveitos da Hotelaria referem apenas o Alojamento Turístico Classificado,

-Receita de Viagens e Turismo resulta da despesa de todos os Turistas, quer alojados no Alojamento Classificado quer no Não Classificado.

Em outro Post (Quarto) mostramos que, entre os dois indicadores,

-há diferença em Valor e Ritmo de Crescimento, que resulta das actividades económicas que cada um abrange e que esta diferença questiona a Adequação da Politica de Turismo à Economia.

*“melhor ano turístico de sempre”
Na Conferência de Imprensa, o Ministro fala de números que “representam o melhor ano de sempre’. Parece inócuo, mas não é. António Pires de Lima ignora dois factos:

-durante anos, Ministros e Secretários de Estado anunciam “o melhor ano turístico de sempre”, com base no Número de Turistas e dando a entender que tal se deve ao seu génio (7),

-a expressão está queimada e queima quem a profere, porque ninguém a leva a sério e identifica o Ministro com o pior do passado.

Já pouca gente se lembra, mas convém não insistir.

*O ‘modelo de Promoção do Destino Portugal’
Segundo Pires de Lima os resultados obtidos pelo sector devem-se a três factores. Refere o "excelente destino turístico" e os operadores privados do sector serem "competentes" e "demonstrarem resiliência", acrescenta:

-"A terceira razão é porque se adoptou, desde meados de 2011, (...) um modelo de promoção do destino Portugal que foi mais eficaz e eficiente na captação de turistas do que era tradição no passado", (8).

Esta afirmação é analisada em próxima série de posts, na qual justificamos a nossa firme discordância com ela.

 
A Bem da Nação

Albufeira 8 de Março de 2014

Sérgio Palma Brito

 
Notas

(1)Ver Publituris Online de 13 de Fevereiro de 2014, Sol de 14 de Fevereiro e Expresso do dia seguinte.

(2)INE, Destaque, informação à comunicação social - Actividade Turística, Dezembro de 2013, 13 de Fevereiro de 2014, referente a 31 de Dezembro de 2013.

O Banco de Portugal só divulga a Balança de Pagamentos de 2013 a 20 de Fevereiro, mas o crescimento da Receita de Viagens e Turismo é esperado e integrado na apresentação política dos Resultados do Turismo em 2013.

(3)Sobre o discurso diferente e inovador do actual Secretário de Estado,

-estamos de acordo com as afirmações mais polémicas de Adolfo Mesquita Nunes, porque coincidem com as que defendemos desde há muitos anos,

-discordamos da aproximação ao ‘alojamento paralelo/alojamento local’ e receamos as consequências de não compreender o Turismo Residencial,

-esperamos informação sobre propostas em matéria de Promoção Turística.

Muitos ainda recordam os prejuízos para o País de vários e penosos casos de tensão entre Ministro e Secretário de Estado. Esperamos que António Pires de Lima reforce a intervenção de Adolfo Mesquita Nunes e ambos contribuam para traduzir o discurso inovador em acções inovadoras.

(4)Pelo contrário, ter uma posição clara sobre Economia do Turismo pode contribuir para o posicionamento pessoal, profissional ou politico de quem assim age – foi, nomeadamente, o caso de Joaquim Ferreira do Amaral, Alexandre Relvas ou Luís Correia da Silva.

(5)Já com o post redigido, encontramos a citação que o Sol de 21 de Fevereiro de 2014 faz das palavras do SET: ““No mesmo ano, atingimos um record do número de hóspedes, de dormidas, de receitas da conta satélite do turismo, do saldo positivo dessa balança e dos proveitos globais de alojamento”. Alguém (SET ou jornalista) se equivoca ao referir “receitas da conta satélite do turismo” e não Receita de Viagens e Turismo.

 

(6)INE, Destaque, Conta Satélite do Turismo 2000-2010, Lisboa, 17 de Dezembro de 2010


(7)O Ministro é gestor e dele esperamos avaliações mais realistas, de que é exemplo a recentemente feita por António Loureiro, Director da Travelport : “Este foi o melhor dos últimos três anos".

(8)Sol Online de 14 de Fevereiro de 2014

 

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