Privatização da TAP (4) – Comentário sobre notícias recentes

Este Blogue não foi concebido para comentar a actualidade, de modo a evitar o risco de se perder na espuma dos dias. Feito o esclarecimento, a importância da Privatização da TAP justifica um Post virado para a actualidade.

Este Post é o quarto de uma série sobre a Privatização da TAP:

-Privatização da TAP Air Portugal (1) – de Salazar à Actualidade (Setembro 2012)

-Privatização da TAP (2) – O Sucesso da TAP no Futuro (Janeiro 2013)

-Privatização da TAP (3) – A Prioridade a Recuperar


1.Nota Sobre Resultado de Exercício e “Poupanças”

*Circunstâncias a Ter em Conta
Em 1994, a TAP, SA evita a falência in extremis, com o Plano Estratégico de Saneamento Económico e Financeiro (PESEF). Entre outras medidas, o PESEF prevê, em valores actuais, cerca de €2.7 mil milhões de aumento de Capital e cerca de €2.4 mil milhões de garantias a empréstimos. Neste momento, temos dois problemas pela frente:

-o Lucro Liquido Acumulado pela TAP, SA entre 2003/2012 é de €14.8 milhões, o que cria uma interrogação sobre a sua sustentabilidade se não houver uma transformação profunda no business as usual.

-este Lucro Liquido Acumulado não tem em conta a remuneração do Capital Investido pelo Estado, uma obrigação simples mas ignorada pela Gestão, pelo Accionista e pela Opinião Pública.

É à luz desta realidade que temos de analisar o Resultado do Primeiro Semestre e as “poupanças” entre 2009/2012.

*Resultado 1º Semestre de 2013
No primeiro semestre de 2013, a TAP perde € 111 milhões, “menos 1 milhão do que o registado no homólogo, divulgou a companhia em comunicado”. Fernando Pinto Para declara que “apesar destes impactos, a companhia continuou a melhorar os seus níveis de produtividade, mantendo-se a expectativa de atingir um resultado positivo no final do ano” (1).

O leitor mais assíduo conhece a nossa referência: “o fraco Accionista faz fraca a forte Gestão”. Enquanto o “accionista” não nos enfraquecer, cá estamos a lembrar:

-perder menos € 1 milhão de euros e ter € 111 milhões de prejuízo é inaceitável, indicia uma empresa com problemas graves e a exigir alteração rápida de status quo.

Estes problemas graves residem no topo, na relação entre Accionista e Gestão. Parceiros Sociais e Opinião Pública não podem permanecer indiferentes.

*Redução de Custos
O Relatório da TAP referente a 2012 ilustra o que designámos por «Restruturação Permanente e de Veludo”:

-“poupanças” de € 294, resultado de um Programa 2009/2012, mas “Para este ano, a empresa não tem objectivos, contudo fonte oficial garante que é um plano que continua activo” (2),

-alguma expansão de actividade com “ganhos de eficiência assinaláveis e a diluição de custos fixos”.

A palavra “poupança” suscita questões e não dá a garantia de um programa de redução sustentável de custos. O que está em causa e tem de ser esclarecido, mais tarde ou mais cedo, é:

-extensão e profundidade da reestruturação da TAP, SA com consequente e significativa redução de custos, com expressão no Resultado Líquido.

O ónus deste exercício pode ser “privatizado”: Se for o caso, ninguém se pode espantar com um infinitesimal encaixe da Privatização.

*Redução da Dívida
A TAP anuncia que “Em 2012, durante o processo de privatização, a companhia conseguiu amortizar 200 milhões”. Em 2013 prevê “reduzi-la em 70 milhões de euros, disse ao Negócios fonte oficial da companhia”. Por fim,o objectivo é terminar 2013 com uma dívida de € 964 milhões” (3).

Não temos analisado a questão da Dívida da TAP por falta de meios para o fazer. A Dívida surge entre os pontos positivos ou “menos negativos” da TAP e apenas o mencionamos para evitar a crítica fácil de “só fala do que é mau”.

2.Entrevista do Presidente da CTP – Sol de 30 de Agosto de 2013

*“Tem de haver novidades sobre a TAP rapidamente”
Francisco Calheiros, Presidente da Confederação do Turismo Português, deu uma entrevista ao Sol (30.08.2013). A TAP é apenas um dos assuntos aflorados na entrevista, o que impede abordar temas relevantes. O título garrafal fala por si “Tem de haver novidades sobre a TAP rapidamente”.

Na entrevista, o Presidente da CTP, depois de reconhecer que “A CTP vive muito preocupada com essa questão”, diz o que pensa fazer:

-“Proximamente, vamos falar com o Ministro Pires de Lima para saber o que se passa com a privatização da TAP. Não posso conceber que não se faça nada nos próximos tempos, seja privatizar ou outra solução qualquer, porque a TAP é vital. Tem de haver novidade rapidamente.”.

Salvo o devido respeito, que é genuíno e muito,

-a démarche revela o estado de espírito dominante: “saber o que se passa”, “não conceber que não se faça nada” e “privatizar ou outra solução qualquer”,

-pensamos que é preciso algo de bem mais forte, por parte de Parceiros Sociais e Opinião Pública.

*A Descapitalização da TAP, SGPS, SA
A uma pergunta sobre se “o facto de a privatização da TAP ainda não ter sido relançada prejudica o Turismo”, o Presidente da CTP responde:

-“O Estado não pode injectar capital, mas a TAP precisa, porque precisa de mais equipamento”,

-“Há rotas que aguentavam mais frequências, mas não se fazem porque não há aviões. Estamos a deixar de ganhar porque não há essa oportunidade de a TAP reforçar linhas.”.

Este é apenas um aspecto da Descapitalização da TAP, um tema muito importante nos Relatórios da Parpublica, SGPS, SA de 2008 a 2011 [ver ponto 2.2 de Aqui], e estranhamente esquecido no de 2012.

A Bem da Nação

Albufeira 31 de Agosto de 2013

O Turismo na Economia – Turistas, Familiares e Amigos

O presente post pretende ilustrar a relevância económica, social e cultural

-das Viagens cujo Motivo é a Visita a Familiares e Amigos,

-do Alojamento Gratuito em Casa de Familiares e Amigos.


Este post é o Quarto (Primeiro, Segundo , Terceiro, Quarto, Quinto, Sexto) de uma série sobre temas abordados no Relatório:

-Quantificar a Contribuição do Turismo Para a Economia


As remissões entre chavetas referem este Relatório, excepto se outro documento for mencionado. Um Glossário facilita a leitura do post.

1.Dois Mercados  e a Oferta

*Economia, Sociedade e Cultura na Formação da Procura
As Viagens por Motivo de Visita a Familiares e Amigos e o Alojamento Gratuito Por Familiares e Amigos ilustram a importância da Economia, Sociedade e Cultura na Formação da Procura por Turistas (1).

Não ignoramos que muita da Visão que reduz o Turismo à viagem de classes altas em hotéis de 4 e 5 estrelas dirá que “nada disto é turismo”, “não é negócio” e “não são estes clientes que nos interessam”.

Opinião diferente têm as empresas de transporte (TAP e Low Cost vivem disto), as empresas que prestam serviços no local de estadia e quem se preocupe real e concretamente com o desenvolvimento local.
Este tipo de análise é base do Programa de Marketing & Vendas que ultrapasse o simples recurso às técnicas.

*O Mercado Externo
Entre 1855 e 1940, mais de um milhão de portugueses emigra para o Brasil e outros países (2). Em 1917, a colónia portuguesa no Brasil é estimada em 800.000 pessoas. Orlando Ribeiro estima que de 1890 a 1940, “saíram de Portugal 1.2 milhões de emigrantes, 92% oriundos do Norte e 83% destinados ao Brasil”.

Neste post, não analisamos como esta massa crítica de viajantes é fundamental para criar o transporte marítimo utilizado pelos touristes que visitam Portugal (3). Também não analisamos a sua importância na procura por tratamentos termais e financiamento de investimentos turísticos. No início do século XXI, os seus descendentes e os laços que criam são factor determinante na formação da procura por viagens a Portugal, centradas em Lisboa, Centro e Norte (4).

Durante os dez anos da década de 1960, emigram para a Europa um número equivalente ao dos portugueses que emigraram entre os cinquenta anos de 1890/1940. A Procura por Viagens de Visitas a Familiares e Amigos por Não Residentes tem as suas raízes nesta enorme deslocação de população.

*O Mercado Interno
No início da década de 1950 começa o desenvolvimento industrial de Lisboa e Porto, que está na origem do despovoamento de grande parte do País, e da formação de duas grandes Áreas Metropolitanas, mais a urbanização da faixa litoral que as une e prolonga a Norte do Porto.

Estes emigrantes no seu País e a sua descendência voltam “à terra” por altura das férias, pontes, datas festivas ou fins-de-semana.

*Economia, Sociedade e Cultura na Formação da Oferta
Uma vez no destino, estes Não Residentes têm impacte significativo na Economia, Sociedade e Cultura da “terra” de onde partiram. Tudo isto acontece desde há dezenas de anos, mas tudo isto exige visão integrada da qual a Politica de Turismo não se deve auto excluir.

As Viagens por Motivo é a Visita a Familiares e Amigos são um nicho de interesse crescente para Estadias em Alojamento Turístico Classificado. A variedade dos visitantes (muitos já na segunda e terceira gerações) e a repetição das visitas criam as condições para uma parte da estadia já não tenha lugar no Alojamento Gratuito por Familiares e Amigos ou na Utilização Própria da Residência Secundária.

2.Mercado Interno
2.1.Viagens Por Motivo de Visita a Familiares e Amigos

*Número Total de Viagens e Viagens Por Motivo de Visita a Familiares e Amigos
O Gráfico 1 ilustra a evolução do Número Total de Viagens de Residentes em Portugal e Destino Portugal e o das Viagens Por Motivo de Visita a Familiares e Amigos, durante o período 2009/2012.

Nos dois casos, constatamos uma queda entre 2009 e 2010/2011 e uma subida em 2012, a parecer contrariar a Crise.

Quadro 1 – Número Total de Viagens e Viagens Por Motivo de Visita a Familiares e Amigos



Fonte: Elaboração própria, com base em INE – Estatísticas de Turismo, 2012

*Viagens Por Motivo de Visita a Familiares e Amigos em Percentagem do Total de Viagens
O Gráfico 2 ilustra a evolução da Percentagem de Viagens de Visita a Familiares e Amigos no Total de Viagens de Residentes com Destino Portugal. Entre 2010/2012, a percentagem destas Viagens sobe de 39% para 46% e parece explicar boa parte do crescimento do número de Viagens.

Quadro 2 – Percentagem de Viagens de Visita a Familiares e Amigos no Total de Viagens



Fonte: Elaboração própria, com base em INE – Estatísticas de Turismo, 2012

*Repartição das Viagens Por Motivo de Visita a Familiares e Amigos por NUT II
O Gráfico 3 ilustra a repartição por NUT II das Viagens Por Motivo de Visita a Familiares e Amigos. Com a excepção do Algarve, a evolução por NUT segue o padrão do País: uma queda entre 2009 e 2010/2011 e uma subida em 2012, a parecer contrariar a Crise.

A menor importância destas Viagens no caso do destino Algarve resulta desta ser uma região menos povoada e da qual emigrou menos gente.

Quadro 3 - Número de Viagens Por Motivo de Visita a Familiares e Amigos por NUT II



Fonte: Elaboração própria, com base em INE – Estatísticas de Turismo, 2012


2.2.Dormidas
*Número Total de Dormidas e Dormidas em Alojamento Gratuito de Familiares e Amigos
O Gráfico 4 ilustra a evolução do Número Total de Dormidas de Residentes em Portugal e em Viagens de Destino Portugal e o das Dormidas em Alojamento Gratuito de Familiares e Amigos, durante o período 2009/2012.

O indicador Número de Dormidas tem mais significado económico do que o do Número de Viagens. Neste caso constatamos uma realidade simples:
-entre 2010/2012, o aumento do Número Total de Dormidas (4.283) é equivalente ao aumento do número de Dormidas em Alojamento Gratuito de Familiares e Amigos (4.031).

Quadro 4 – Número Total de Dormidas e Dormidas em Alojamento Gratuito por Familiares e Amigos



Fonte: Elaboração própria, com base em INE – Estatísticas de Turismo, 2012

*Viagens Por Motivo de Visita a Familiares e Amigos em Percentagem do Total de Viagens
O Gráfico 5 ilustra a evolução da Percentagem de Dormidas no Alojamento Gratuito por Familiares e Amigos no Total de Dormidas.

Entre 2010/2012, o aumento da percentagem das Dormidas é idêntico ao da percentagem das Viagens (entre 17% e 18%).

Quadro 5 – Percentagem de Dormidas em Alojamento por Familiares e Amigos no Total de Dormidas



Fonte: Elaboração própria, com base em INE – Estatísticas de Turismo, 2012

*Repartição por NUT II das Dormidas em Alojamento Gratuito Familiares e Amigos
O Gráfico 6 ilustra a repartição por NUT II das Dormidas em Alojamento Gratuito Familiares e Amigos. A evolução é idêntica à registada pelo Gráfico 3 sobre as Viagens por Motivo de Visita a Familiares e Amigos.

Quadro 6 – Número de Dormidas em Alojamento Gratuito Por Familiares e Amigos por NUT II



Fonte: Elaboração própria, com base em INE – Estatísticas de Turismo, 2012


2.3.Contexto
O Gráfico 7 contextualiza a utilização dos diferentes Tipos de Alojamento Turístico pelo Residentes em Portugal (5). A importância do Alojamento Gratuito Por Familiares e Amigos é evidente.

Menos evidente, mas relevante, é questionarmos o valor das Dormidas em Estabelecimentos Hoteleiros – na ocorrência, Estabelecimentos Hoteleiros tem um significado diferente do definido para o Alojamento Turístico Classificado [ver ponto 2.2 do Relatório].

Este assunto é analisado em Post específico, no qual analisamos
-a evolução 2009/2012 da utilização de cada um dos Tipos de Alojamento Turístico,
-a comparação com a utilização dos Empreendimentos do Alojamento Turístico Classificado.

Veremos que a análise levanta mais perguntas do que dá respostas. 

Gráfico 7 – Dormidas Durante as Viagens de Residentes em Portugal por Tipo de Alojamento Turístico




Fonte: Elaboração própria, com base em INE – Estatísticas de Turismo, 2012

3.Mercado Externo
3.1.Mercado Externo em Portugal
Não dispomos de informação que permita analisar as Viagens e Alojamento de Não Residentes.
Esta é mais uma consequência de INE e Turismo de Portugal terem descontinuado o Inquérito aos Movimentos de Pessoas nas Fronteiras, realizado apenas entre 2004/2007.

3.2.Mercado Emissor do Reino Unido – Visits to Friends and Relatives
*O Estudo de 2009
Um estudo de 2009 sobre as Visits to Friends and Relatives (VFR)o mercado do Reino Unido reconhece (6):
-“The robust growth of VFR traffic reflects societal trends such as increased labour mobility, migration and the ownership of second-homes abroad.”.

Os passageiros [o estudo é da CAA] de Visita a Familiares e Amigos, dispõem, em média, de rendimento menos elevado do que os outros passageiros e viajam mais frequentemente para o mesmo destino.

*Evolução das Visits to Friends and Relatives
O Gráfico 8 ilustra, para o caso do Mercado do Reino Unido, as Viagens por Motivo de Holiday (equivalente de Lazer, recreio ou férias) e Visitas a Familiares e Amigos.

Em 2012, as Viagens de VFR continuam a crescer e as de Holiday a diminuir, mas a ritmo muito lento. 

Gráfico 8 – Viagens de Holiday e de VFRs no Mercado Emissor do Reino Unido (1980/2012)



Fonte: Elaboração própria com base em Office of National Statistics – Travel Trends

*Travel Trends 2011
Em 2011 (7), uma das Key Trends do Travel Trends 2011 é:
-“Holiday visits abroad grew by 1.1 per cent, business visits by 3.1 per cent and those to visit friends or relatives increased by 6.9 per cent.”.
Citamos alguns números sobre as Diásporas:
-“Eleven per cent of visits by overseas residents [ao Reino Unido] in 2011 were made by those holding a UK passport. As would be expected, the majority of these visits were to see friends or relatives; two-thirds of visits were for this reason.”,
-“In 2011 over 1 million visits were made to Poland by Polish nationals living in the UK. This represented 73 per cent of total visits to Poland by UK residents.”,
-“visits to each of the Irish Republic, Germany, Italy and Lithuania by UK residents include at least 10 per cent made by nationals of that country.”.


A Bem da Nação

Albufeira 8 de Agosto de 2013

Sérgio Palma Brito

Notas

(1)Sobre Motivo da Viagem ver as Recomendações de 2010, ponto vvv. Sobre Tipos de Alojamento Turístico da Definição Abrangente por Instituições Internacionais, ver Ponto 3 e Anexo 3 do Relatório.

(2)Dicionário de História de Portugal, dirigido por Joel Serrão, entrada Emigração, Vol. II, p.19, por Joel Serrão.

(3)Emigração Análise Social e SPB.

(4)Ver Ponto E) de Algarve – Sazonalidade e Low Cost, na Procura e Oferta de Turismo http://sergiopalmabrito.blogspot.pt/2012/12/algarve-sazonalidade-e-low-cost-na.html

(5)Ver no Glossário “Alojamento Turístico no Inquérito às Deslocações dos Residentes”.

(6)Civil Aviation Authority (CAA) – The growth in air travel to visit friends or relatives, London, March 2009.


(7)Ver Travel Trends 2011: Viagens ao Estrangeiro por Residentes no Reino Unido – em breve apresentamos a actualização para 2012. http://sergiopalmabrito.blogspot.pt/2012_07_01_archive.html

Utilização da Segunda Residência Como Alojamento Turístico

O presente post pretende sensibilizar o leitor sobre a importância da utilização da Segunda Residência Como Alojamento Turístico.


Este post é o Sexto (Primeiro, Segundo , Terceiro, Quarto, Quinto, Sexto) de uma série sobre temas abordados no Relatório:

-Quantificar a Contribuição do Turismo Para a Economia


O Post será publicado durante a primeira quinzena de Setembro.

A Bem da Nação

Sérgio Palma Brito

Notas Sobre um Painel de Indicadores da Economia do Turismo (2)


Aviso – Este Post resulta de uma revisão profunda do Post com o mesmo título e publicado a 28 de Agosto de 2013

É estranho, mas é verdade: em 2013, ainda não dispomos de um Painel de Indicadores da Economia do Turismo.

Este painel é um contributo para
-a eficiência da Iniciativa Privada e da Intervenção Pública na Economia do Turismo,
-o Posicionamento desta, na sua relação com a Transversalidade do Turismo (do Fisco ao Ambiente, passando pelo Transporte Aéreo), com Parceiros do Negócio (Bancos & Similares), e com a Opinião Pública.

Este Painel é uma versão light (ou low cost) de algo mais difícil e complicado de concretizar, se bem que necessário:
-Quantificar a Contribuição do Turismo Para a Economia, tema que abordámos em Relatório (Aqui) e Posts de Divulgação (Aqui).

O Painel pressupõe considerável trabalho de back office, mas é compatível com os meios de que dispomos.

Neste Post apresentamos, a título de exemplo do que pode ser o Painel, os dois indicadores mais utilizados e Notas sobre a elaboração do Painel.

Índice
1.Exemplo dos Dois Indicadores Mais Utilizados
1.1.Evolução Mensal em 2013 e Comparação com 2012
1.2.Contextualização dos Dois Indicadores no Tempo
1.3.Clarificar a Relação Entre os Dois Indicadores
2.Notas Sobre o Painel de Indicadores da Economia do Turismo
2.1.Painel de Indicadores da Economia do Turismo
2.2.Metodologia de Elaboração do Painel

1.Exemplo dos Dois Indicadores Mais Utilizados

*Dois Indicadores
Neste momento, dispomos de dois Indicadores credíveis e divulgados mensalmente, com seis semanas de atraso sobre o mês de referência:

-Receitas e Despesas de Viagens e Turismo da Balança de Pagamentos, um indicador a nível do País e estimado pelo Banco de Portugal, e com base no Conceito Abrangente de Turismo (ver Aqui e Aqui),

-Proveitos Totais da Industria da Hotelaria, um indicador a nível do País, com detalhe por NUT II e Tipo de Empreendimento, e estimado pelo INE, com base no Conceito Redutor de Turismo [ver Ponto 2 do Relatório referido antes].

Para entendermos estas duas realidades económicas diferentes consagramos um ponto a Clarificar a Relação Entre os Dois Indicadores [ponto 1.3].

1.1.Evolução Mensal em 2013 e Comparação com 2012

*Receita de Viagens e Turismo da Balança de Pagamentos (2012/2013)
O Gráfico 1 ilustra a evolução mensal, entre 2012/2013 da Receita de Viagens e Turismo da Balança de Pagamentos. Há três observações a fazer e que são confirmadas pela análise da evolução 2006/2013 (ver Gráfico 3):

-a Sazonalidade de Julho/Setembro, alargada a Outubro,

-a relação provável desta sazonalidade com estadias de residentes no estrangeiro e de nacionalidade portuguesa,

-uma ligeira queda entre Maio/Junho, cuja explicação ignoramos.

Este indicador está destinado a ter uma importância crescente por

-uma boa razão: a prioridade que Governo e Iniciativa Privada têm de dar ao Turismo Receptor,

-e uma má: a visibilidade que ganhou, desde há anos, deve-a muito ao apetite da Politica de Turismo por tudo o que “cresce” e não pela Prioridade que deve ter na Politica Económica.

Gráfico 1 – Receita de Viagens e Turismo da Balança de Pagamentos (2012/2013)
(milhares de euros)


Fonte: Elaboração própria com base em números do Banco de Portugal

Este Blogue assume o compromisso de, mensal e atempadamente, actualizar este Gráfico.

*Proveitos Totais da Industria da Hotelaria (2012/2013)
O Gráfico 2 ilustra a evolução mensal, entre 2012/2013 dos Proveitos Totais da Industria da Hotelaria, de acordo com o Inquérito à Permanência de Hóspedes e Outros Dados na Hotelaria (INE). Este Inquérito fornece mais informação e os indicadores mais debatidos são os referentes a Hóspedes e Dormidas. Sobre os Proveitos Totais, há um comentário:

-a Sazonalidade de Julho/Setembro, com Junho/Outubro separados e Junho superior a Outubro.

Gráfico 2 – Proveitos Totais da Industria da Hotelaria (2012/2013)
(milhares de euros)


Fonte: Elaboração própria com base em números do INE

Este indicador é largamente divulgado pelo INE, no prazo de cerca de seis semanas após o fim do mês de referência.

*Receita de Viagens e Turismo e Proveitos Totais da Hotelaria (2013)
O Gráfico 3 ilustra a evolução mensal, em 2013, dos dois Indicadores: Receitas de Viagens e Turismo da Balança de Pagamentos e Proveitos Totais da Industria da Hotelaria. Dois comentários

-há uma diferença de escala e de substância entre as duas realidades que os indicadores quantificam [ver ponto 1.3],

-a evolução é similar, com a excepção da queda da Receita de Viagens e Turismo em Junho.

Gráfico 3 – Receita de Viagens e Turismo da Balança de Pagamentos e Proveitos Totais da Industria da Hotelaria (2013)
(Milhares de Euros)


Fonte: Elaboração própria com base em números do Banco de Portugal e do INE

Este Blogue assume o compromisso de, mensal e atempadamente, actualizar este Gráfico.

1.2.Contextualização dos Dois Indicadores no Tempo

*Evolução Entre 2006/2013 (Mensal)
O Gráfico 4 ilustra a evolução mensal, entre 2006/2013, dos dois Indicadores: Receita de Viagens e Turismo da Balança de Pagamentos e Proveitos Totais da Industria da Hotelaria. Três comentários:

-este tipo de série exige análise estatística com base matemática e não simples observação do gráfico – campo fora do âmbito da nossa análise,

-o padrão de sazonalidade mantém-se ao longo dos anos, como se mantém a queda entre Maio/Junho da Receita de Viagens e Turismo na Balança de Pagamentos,

-apesar do ser elementar, a Linha de Tendência Linear é suficiente para identificar estagnação dos Proveitos Totais da Industria da Hotelaria e o crescimento ligeiro, mas sustentado da Receita de Viagens e Turismo.

Gráfico 4 – Receita de Viagens e Turismo da Balança de Pagamentos e Proveitos Totais da Industria da Hotelaria (2006/2013, Mensal)
(Milhares de Euros)


Fonte: Elaboração própria com base em números do Banco de Portugal e do INE

*Evolução Entre 2002/2012 (Anual)
O Gráfico 5 ilustra a evolução anual, entre 2002/2012, dos dois Indicadores: Receita de Viagens e Turismo da Balança de Pagamentos e Proveitos Totais da Industria da Hotelaria. Dois comentários:

-a divergência entre as duas Linhas de Tendência é mais acentuada do que a que resulta dos valores mensais no intervalo de 2006/2013,

-a evolução entre 2008/2012 (Gráfico 6) ilustra melhor as avaliações diferentes sobre o sucesso da Economia do Turismo por parte da Politica e de interesses ligados à Industria da Hotelaria.

Gráfico 5 – Receita de Viagens e Turismo da Balança de Pagamentos e Proveitos Totais da Industria da Hotelaria (2002/2013, Anual)
(Milhares de Euros)


Fonte: Elaboração própria com base em números do Banco de Portugal e do INE

*Evolução Entre 2008/2012 (Anual)
O Gráfico 6 ilustra a evolução anual entre 2008/2012, dos dois Indicadores: Receita de Viagens e Turismo da Balança de Pagamentos e Proveitos Totais da Industria da Hotelaria. Este gráfico permite uma análise mais refinada de um debate que agita o mundo de “o Turismo”:

-a Politica de Turismo utiliza o crescimento da Receita de Viagens e Turismo para justificar que “o Turismo não está em crise”

-vozes da Industria da Hotelaria conhecem a crise que as suas empresas atravessam e interrogam “Como pode o Turismo estar bem, se as nossas empresas não estão?”.

O Gráfico 6 mostra mais em detalhe que, depois da descida comum que resulta da Crise de 2008/2009, os dois indicadores divergem, com

-subida clara da Receita de Viagens e Turismo na Balança de Pagamentos,

-estabilidade dos Proveitos da Industria da Hotelaria, e ligeira descida entre 2011/2012.

A explicação é simples, se não esquecermos que estamos a lidar com duas realidades económicas diferentes. É simples, mas é parte de um tema mais vasto e muito importante: a Relação entre a Politica de Turismo e a Industria da Hotelaria, a conhecer em Post próximo. 

Gráfico 6 – Receita de Viagens e Turismo na Balança de Pagamentos e Proveitos Totais da Industria da Hotelaria (2008/2012)
(milhares de milhões de euros)


Fonte: Elaboração própria com base em números do Banco de Portugal e do INE

1.3.Clarificar a Relação Entre os Dois Indicadores

*Duas Definições Formais de Turismo
Não é por acaso que a mera análise dos dois indicadores credíveis de que dispomos sobre a Economia do Turismo nos remete para o Quantificar a Contribuição do Turismo para a Economia:

-a diferença entre as duas Definições Formais de Turismo, o Conceito Redutor de Turismo (da Política de Turismo e da Industria da Hotelaria) e o Conceito Abrangente (das Instituições Internacionais – Comissão de Estatísticas da ONU, Organização Mundial do Turismo, OCDE, e União Europeia e Eurostat).

Não é por acaso que tal acontece, mas sim porque esta diferença é substancial e está presente em grande parte da quantificação e análise da Economia do Turismo.

Sobre o assunto, relembramos que é possível aceder ao Relatório sobre Quantificar a Contribuição do Turismo Para a Economia (Aqui) e aos Posts de Divulgação (Aqui).

*A Evitável Falsa Questão
Estamos perante duas realidades diferentes:

-a Balança de Pagamentos utiliza o conceito abrangente de Turismo e o Alojamento Turístico Classificado é exemplo por excelência do conceito redutor de Turismo,

-os Proveitos da Industria da Hotelaria incluem uma importante componente de proveitos de Residente em Portugal, mas não incluem as despesas de Não Residentes que estão alojados no Alojamento Classificado e que são feitas fora do Empreendimento em que alojam.

Em síntese, são duas realidades diferentes, a exigir análise mais profunda. O “debate que agita o mundo de «o Turismo»” confirma a necessidade de qualificar a Contribuição do Turismo Para a Economia.

2.Notas Sobre o Painel de Indicadores da Economia do Turismo

2.1.Painel de Indicadores da Economia do Turismo

*Conta Satélite do Turismo e Painel de Indicadores
O instrumento da Macroeconomia para Quantificar a Contribuição do Turismo Para a Economia é a Conta Satélite do Turismo, mais o contributo da Balança de Pagamentos.

Por razões que detalhamos no já mencionado Relatório [ver o Ponto 1], devemos avaliar a possibilidade de termos uma Conta Satélite do Turismo qualificada, consistente e divulgando quadros trimestrais e um relatório anual. De qualquer maneira, não teríamos essa Conta Satélite antes de 2015.

Se não há procura pela informação de uma CST e se a sua elaboração exige meios que vão para além do que estamos dispostos a pagar, então talvez seja mais eficiente suspender o assunto e não desperdiçar recursos em exercícios como os que tivemos até hoje. 

*Indicadores Elaborados a Partir de Informação Existente
A elaboração de um Painel de Indicadores requer menos meios e tempo do que a elaboração da CST, é de leitura mais acessível do que os resultados da CST, e fornece informação útil.

A primeira prioridade deve ser alargar o Painel a indicadores existentes e já parte da informação que a Administração produz. Citamos dois exemplos evidentes, mas não únicos.

O primeiro exemplo é a divulgação mensal de Estatísticas do Transporte Aéreo, com Total do País e detalhe por Aeroporto:

-Passageiros Embarcados, Desembarcados e em Trânsito,

-Passageiros Embarcados/Desembarcados por Companhias Nacionais e Estrangeiras.

Toda a informação existe, é de natureza administrativa e de excelente qualidade. Há apenas que a recolher, tratar e divulgar a tempo e horas.

O segundo exemplo consiste em completar a informação que o Banco de Portugal dispõe sobre

-Receita e Despesa do Transporte Aéreo,

-Receita do Investimento Directo Estrangeiro por Não Residentes em Segundas Residências de Utilização Turística.

*Recuperar os Inquéritos Descontinuados em 2008
É mais difícil, mas é necessário, voltar a realizar os dois Inquéritos descontinuados em 2008:

-Inquérito aos Movimentos de Pessoas nas Fronteiras,

-Inquérito aos Gastos Turísticos Internacionais.

Esta acção é a segunda prioridade e apenas depende de ser possível relançar o equivalente para os dias de hoje, do Protocolo entre Direcção Geral do Turismo, INE e Banco de Portugal, assinado em 2004, quando o Secretário de Estado do Turismo era Luís Correia da Silva.

2.2.Metodologia de Elaboração do Painel

*Acordo Entre Politica de Turismo e Iniciativa Privada
O primeiro passo tem de ser dado pelo Ministério da Economia/Secretaria de Estado e Confederação do Turismo Português e consiste em

-acordar sobre as acções a desenvolver e resultados a obter, com responsabilização e prestação de contas,

-iniciar os contactos com INE e Banco de Portugal, e com o Departamento de Macroeconomia de Universidade de Referência em Economia cuja colaboração é definida a seguir.

O Turismo de Portugal e a Confederação do Turismo Português devem reunir com outros Utilizadores de Estatísticas e, em ligação com INE e Banco de Portugal, acordar o Protocolo que apresentamos a seguir.

*Protocolo Entre Turismo de Portugal, INE e Banco de Portugal
Turismo de Portugal, Confederação do Turismo Português, INE e Banco de Portugal estabelecem um Protocolo com dois capítulos. O primeiro é o de Princípios Gerais

-a Recolha de Dados, a Elaboração/Divulgação de Estatísticas e da Conta Satélite do Turismo é da competência exclusiva do INE,

-o Banco de Portugal elabora e divulga a Balança de Pagamentos, e colabora na elaboração de outros Indicadores do Painel,

-INE e Banco de Portugal promovem e estão abertos ao feed back dos utilizadores, para identificar erros/omissões e melhorar a informação disponibilizada,

-o Turismo de Portugal facilita e apoia financeiramente parte da actividade do INE, no respeito da sua independência, e não Elabora Estatísticas,

-a Confederação do Turismo Português obtém o compromisso da Iniciativa Privada no apoio ao trabalho do INE e Banco de Portugal, no respeito da sua independência.

O segundo é o da colaboração em três casos

-Avaliar a viabilidade da elaboração da Conta Satélite do Turismo,

-Criar Novos Indicadores com base na Informação Existente – Primeira Prioridade,

-Relançar os dois Inquéritos suspensos em 2008 – Segunda Prioridade.

*Apoio Científico Especializado
Turismo de Portugal e Iniciativa Privada promovem acordo com Departamento de Macroeconomia de Universidade de Referência em Economia [e não em Turismo], para acção consistente

-na definição do Painel e acompanhamento da sua elaboração e divulgação,

-na recolha e difusão de informação de Países Emissores e Concorrentes pertinentes para avaliar a competitividade da Oferta de Turismo de Portugal,

-no acompanhamento das realização de Inquéritos fora do Sistema Estatístico Nacional para garantia de controle técnico e científico,

-na divulgação das Estatísticas e Conta Satélite do Turismo e facilitação do seu conhecimento.

A escolha deste tipo de Departamento de Macroeconomia traduz uma preocupação

-para ser credível, o Quantificar a Contribuição do Turismo Para a Economia (é disto que se trata, em versão reduzida) deve estar a cargo de instituição especializada de nível internacional.

A Bem da Nação

Albufeira 30 de Agosto de 2013


Sérgio Palma Brito