Público - Linha Sines-Badajoz não tem continuidade no lado espanhol

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Comboio Para Espanha: Vingança da História e Geografia


Mesmo os melhores dos meus amigos me consideram um chato, quando, a propósito das coisas de HOJE, me preocupo com a sua contextualização pela História e Geografia. Desde que descobri o artigo de Vitorino Magalhães Godinho, evito mencionar o “contexto histórico e geográfico”, mas é de isso que se trata.

Se bem percebo, na cena da ligação ferroviária com a Europa, já temos guerra e o Governo não se sai bem. Para ajudar a perceber o que está em causa, seria útil um percurso pela História e Geografia.

Apresento reduzido e rudimentar exemplo deste percurso.



Þ     1866: O Porto de Lisboa e a Ligação Ferroviária à Europa

De entre a variada literatura sobre o tema genérico de “Lisboa, cais da Europa”, recordo o que Vilhena Barbosa escreve, em 1866:

 Quando estiver aberta á circulação a via férrea que, passando por Madrid, nos há de ligar a toda a Europa, o que se realizará ainda este ano; quando a nossa linha do sul e sueste, que não tarda a chegar ás margens do Guadiana, se estender até Sevilha, unindo-nos depois com todas as cidades de Espanha, da França e da Itália, banhadas pelo Mediterrâneo, acontecimento que não se há de fazer esperar por muitos anos; quando, finalmente, este porto for dotado com boas docas, guarnecidas de armazéns vastos e cómodos, com todas as mais condições necessárias á prontas e fácil descarga e carregação dos navios, o grande deposito das docas de Londres há de repartir com as de Lisboa uma parte das suas riquezas. O comércio britânico, que é o primeiro de entre todas as nações a apreciar e a saber praticar a economia do tempo e das despesas improdutivas, reconhecerá o muito que interessa em ter no porto de Lisboa abundante depósito de géneros coloniais para o abastecimento dos mercados do Mediterrâneo. Evitando d’est’arte que os géneros do Brasil e da Africa ocidental passem duas vezes em frente da barra do Tejo, na sua ida para as docas de Londres, e na sua volta para os diversos portos do Mediterrâneo, poupará avultadas despesas de transporte e de seguros marítimos; livrar-se-á dos sinistros e delongas tão frequentes no canal da Mancha; e obterá por menor preço os trabalhos braçais da baldeação.” [Archivo Pitoresco, Vol.IX, 1866, p.25].



Þ     Século XIX: Rede Ferroviária e Ligações com Espanha

No caso da Rede Ferroviária e Ligações com Espanha, desde as negociações (sic) sobre a Rede de Alta Velocidade à actual linha, teria sido útil conhecer o que se passou há mais de cem anos. A minha generosidade limita-se a citar três trabalhos de Maria Fernanda Alegria:

·          O Desenvolvimento da Rede Ferroviária Portuguesa e as Relações com Espanha no Século XIX, Lisboa, Centro de Estudos Geográficos, Universidade de Lisboa, 1983

·          A Organização dos Transportes em Portugal (1850 – 1910) – as vias e os tráfegos, Lisboa, Centro de Estudos Geográficos, 1990

·          O Tráfego de Passageiros e de Mercadorias, em Para a História dos Caminhos-de-Ferro em Portugal, Estudos Históricos 1

Do texto de 1983, começo por citar um parágrafo significativo: “Las razones por las cuales no fueran concretizadas ni la linea del valle del Tejo ni del Guadiana, advien tanbién de la possible concurrencia que el puerto de Lisboa significaria para los puertos Andaluces, sobretodo al de Cadiz, pero también al de Sevilla y Huelva.”.

Cito agora, a conclusão de Mariana Alegria, sobre a ligação com a Anadaluzia: “la defensa de la función de exportador del puerto de Lisboa, de productos provenientes de Andalucia, comezaba a ser insostenível. Andalucia tenia sus proprios puertos, así como sus proprios circuitos ferroviarios organizados en funcion de ellos. [...] Si lo que Portugal pretendia era proporcionar um «puente» y un puerto de embarque, es necessário reconocer que estas condicionaes habían sido asseguradas, antes que Portugal, por la própria Andalucia.”.



Þ     Sobre a Actualidade

Há um facto pouco comentado e ainda menos explicado. Sines data de Marcello Caetano, já lá vão quarenta anos. Sabendo nós que o tecnocrata do Marcelismo foi a espécie que melhor sobreviveu à agitação da vida pública portuguesa, como é possível que ainda se ande a discutir a ligação ferroviária de Sines à Europa?

A Espanha, há que acrescentar França, onde os slots nas linhas de caminho-de-ferro podem ser tão difíceis como os necessários para voar para Heathrow.

O meu argumento não é o do determinismo histórico ou o de estarmos condenados à choldra. É algo de mais concreto: qual é a sua Hist´ria e o seu Território.



A Bem da Nação

Albufeira 2 de Abril de 2012

Sérgio Palma Brito

03.04.2012.Ligações.Ferroviárias.Portugal.Espanha

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